sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

REUNIR PARA CONCERTAR

A necessidade de reunião deve ser mesmo uma das mais antigas, ou não fôssemos animais de hábitos. Uns mais repassados que outros, a nós nos cabe ir perpetuando costumes e alongando a teia de formalidades a que nos vemos presos. Depois da necessidade de comunicar, a de reunir deve mesmo ter nascido imediatamente após. Para definir estratégias de sobrevivência, supomos, conquanto decisivas para manter inviolável o espírito do clã ou tribo. Nos dias que vão correndo, entre reuniões a mais - e nunca a menos - fazem-se promessas e lançam-se garantias de (r)estabelecimento de uma ordem perdida nos meandros de outras reuniões anteriores, e que fazem de nós profissionais do ler, do agendar, do sentar e do discutir os assuntos que, se estivéssemos mais aptos a apurar a nossa autonomia, dispensavam tanta agenda repleta de horas de reuniões. Precisamos delas, naturalmente, quando a utilidade ultrapassa o incómodo. Mas o que se passa não é bem assim. Não raro verificamos existir mais o contrário, com vozearias sobre outras vozes de pessoas que se querem fazer ouvir. E tudo pela importância que julgamos que nos dão: gostamos de estar no centro das atenções, porque os olhares dos outros, se não reprovam, entendem o que dizemos. E as decisões, que se ponderam em minutos breves, quando o cansaço tomou já conta dos intervenientes? Estarão à altura dos motivos da reunião? Dúvidas, sim, para aferir o nosso grau de intervenção nas mesmas, progressivamente relativizado por uma certa atitude de liderança impertinente, coerciva e autoritária, no pior sentido do termo. Muito mais longe estamos de nos sentirmos cativados a participar com gosto.

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