terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O PREÇO DO ATREVIMENTO

Somos, desde muito cedo, modelados por vontades que a nossa consciência, ainda distante do olhar, não consegue explicar. Temos um carácter mais ou menos definido, consoante as circunstâncias hereditárias, e sofremos as influências familiares de acordo com as preocupações dominantes. Querem-nos fiéis aos princípios de tradição do apelido, caso se trate de pessoas muita afectas ao quadro social em que se integram, ou deixam esse tipo de inquietações para um futuro de absoluta autonomia. Julgam, portanto, que cada novo ser pode ser formado por si só, e que é na mercê ocasional dos dias que a personalidade pode ser ajustada. Diremos que nenhum destes dois modelos poderá vingar sem a presença do outro, numa espécie de jogo de aceitação e combate; de acatamento e disfunção. Humanos desde uma origem mais ou menos premeditada, seremos sempre assim pelos tempos além, numa mescla de asserções e negações do que a vida nos prodigaliza. Avançamos e recuamos, conforme as intuições, nem sempre em total disponibilidade para nos afirmarmos integralmente livres. Criados em função de um equilíbrio saudável, estaremos aptos a escolher a melhor ia, entre as melhores possíveis, porque assim nos moldaram o carácter. Fora isso, e aceitando que o indivíduo é também um anima subversivo, sobrevém a ideia de que é sempre necessário deixar uma larga margem ao desvio e à erupção da evasiva comportamental, como forma de nos podermos revelar em diferença. Há muito por onde escolher, desde simples gestos a desafios simulados que pareçam roçar mais a vergonha nos outros, tudo pode ser nascer na imaginação, porque totalmente emancipada das cadeias antigas dos primeiros tempos de construção do temperamento.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

REAPRENDER A SER

De volta às tarefas mais exigentes, depois de alguns dias de letargia consentida. Tirando o peso ganho na imensidão de festas que se desejaram, à farta, sempre boas, aí nos vemos aumentando uma garantia duvidosa de um futuro a fazer, muito, mas muito lentamente. Difíceis de governar numa aurora de civilização, por estarmos a nascer para variadas expressões dela, aceitamos de ar leviano a aprendizagem que nos incutem, ora por imposição de um programa mais ou menos nacional, ora por injunção de uns exames por conhecer, feitos espécie de fantasmas assustadores de finais que se auguram mais pacíficos. Mais que dominar os conhecimentos através dos exercícios inscritos nas páginas de um qualquer tomo ou perceber as relações entre palavras; entre significantes e significados; e entre conteúdo e substância, que uma gramática explica com sentido útil, o importante é compreender os efeitos que tais conhecimentos produzem em nós. Deixam-se estes exemplos, representativos das áreas das Ciências Exactas e das Ciências Humanas, para melhor expor algumas diferenças acerca do que estudam os portugueses nas escolas. Um país é tão ou mais evoluído quanto mais próxima for a relação que consegue estabelecer com as instituições escolares, donde se depreende ser junto das estruturas educativas que se desenha o rumo de uma nação que se pretende para sempre soberana, contra ameaças externas que façam perigar as nossas crenças no futuro.

domingo, 3 de janeiro de 2010

DE VOLTA ÀS ROTINAS

É domingo nos calendários e nos ritos de tradição convicta. É um dia diferente do anterior, a chamar a um descanso merecido e inspirador para quem assim o entender. É tempo de dar tempo a nós mesmos, despertando para os silêncios hospitaleiros que povoam as nossas casas como é habitual, uma vez dispensados das azáfamas comprometidas com o lado mais material da vida. Isso fica para os outros dias, que neste temos de agir com calma e ponderação, para melhor condizer com as melhorias de aparência. Procuramos alinhar em dia as conversas suspensas antes e olhamos para o presente de uma maneira mais encorajada, porquanto termos esperado seis dias para nos libertarmos de umas obrigações vistas como dominadoras da nossa gentia tendência para recusar o cumprimento de um horário ou uma palavra de ordem de um superior. Para o comum dos cidadãos, ao domingo não há chefias a respeitar, nem ordens a prestar a subordinados, a não ser para prestar umas contas aos vícios que muito persistem em manter, seja de âmbito desportivo, musical e afim. Queremos deixar de pensar na vida dos outros, para pensar mais na nossa, o que nem sempre efectivamente sucede, dado sermos pertença do quadro de relações familiares e estarmos integrados num núcleo que reclama a nossa presença única para marcar o momento de estarmos presentes a viver o maior presente que é o de criar memória comungável.