quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Um brilho na eternidade

A vida surpreende-nos continuamente. Pode ser numa curva qualquer do nosso rumo, em que a escassez de largura da via pede menos ímpeto ou a maior afoiteza na vontade de chegar pode apetecer velocidade, abrindo a luz do itinerário para perceber melhor a paisagem. E porque de cadências se faz qualquer viagem, consoante a gestão dos tempos próprios e dos recursos ao dispor, vão-se trocando as mudanças à medida das condições de espaço e segurança. Fases sobre fases do longo trajeto em curso, que vemos sempre incompleto e também ele em mudança causada pelo avanço dos dias.    

Sucessão de intenções, contentamentos e derrotas, no que podemos acumular de cintilação onírica desde a infância, vive-se pelo desejo de rutura de um passado triste e sofrido, mas tão limitado quanto tranquilo, longe da altura reclamada pela pressão de milhões com expectativas no máximo.   

Uma estrela, quando assim é vista à distância do talento, mesmo nas intermitências dos ciclos, brilha para a eternidade, porque foi desse modo inspirador que atraiu os olhares dos seguidores terrenos, na expectativa de nunca perder o lugar na constelação dos lugares divinizados. 

O talento, o génio e a subversão, irmanados em arquivo de momentos raros e irrepetíveis, criam o mito capaz de vencer a poeira dos dias, por onde andam os normais, quantas vezes descrentes e receosos da imortalidade possível. Reservada aos predestinados, sempre guarda um lugar solene para os insatisfeitos, humanos como todos, mas divinos nos sonhos.