quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

SILÊNCIOS COMPROMETIDOS

Uma pausa no ritmo afanoso do quotidiano, para ouvirmos os silêncios que brotam de dentro, por ser raro, tem mais valor. Um ouro que as pessoas insistem continuadamente em desperdiçar, julgando recolher dessa perda um outro bem mais imediato. Sem saber exactamente qual, persistem em despertar nos outros as palavras que gastam sem sentido, quando poderiam recolher-se, a bem, no seu mundo de emudecimentos. Sempre preferível, a ter que ser representado pelos outros em sentenças comprometidas. Eles, os que se apressam a fugir às explicações de lisura e polimento, preferem a mudez cheia de desconfiança, e mantêm-se bem fechados num espaço criado por conveniência. Enclausurados nessa espécie de meditação há muito prevista, não fosse por um espírito de ganancioso proveito próprio, reagem a medo quando solicitados a pronunciar-se sobre este ou aquele tema. Calam-se, porque reflectir é incómodo. E dão a entender que o ser humano não tem nem pode ter opinião. Aí, na ocasião em que tal sucede, já morreram para as ideias; para os valores; para os outros. Isto porque julgam que, naquele espaço meio vazio que é a fantasia egoísta do seu cérebro, está garantida a substituibilidade. Acham-se únicos, portanto. Já são mais matéria que sentido. No plano material é que devemos aprioristicamente falar em substituição, tão de contrário ao humano, pois que ninguém é a repetição de uma entidade que existe no outro, nem se deve arrogar verdadeiro representante das capacidades críticas vizinhas.

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