sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

DA AUSÊNCIA E DO ESQUECIMENTO

A admitir que a memória é susceptível a intervalos de curso, que também necessita de repouso, à semelhança do cérebro e do olhar, resta-nos reconhecer a inevitabilidade das falhas a que frequentemente estamos sujeitos. Falíveis como somos no respeito íntegro das nossas obrigações, as impostas pelos calendários alheios, porque delicados no rigorismo numérico das horas - sabemos que o tempo passa e que, por passarmos com ele, nos tornamos progressivamente frágeis - compensamos atrasos e contrapesamos expedientes válidos e capazes de ultrapassar as limitações anteriores. E porque todos estamos sujeitos a contingências de múltipla ordem, aguardamos a compreensão dos pares para debelar estas ou aquelas omissões. Se descermos ao mais fundo da nossa forma de ser, preocupados em corrigir essas situações, verificamos que elas se perdem no tempo. Nasceram connosco, admitamos, o que não significa que tenham de nos acompanhar indefinidamente, uma vez que somos feitos de memórias quebradiças e de compromissos defectíveis. Só a escrita pode vencer este desfalecimento, em ordem a procurar o repouso curativo que favoreça o equilíbrio entre nós e os outros.

Sem comentários: