sábado, 6 de dezembro de 2008

PROLONGAR O REPOUSO

Um fim-de-semana prolongado é raro demais para ser desperdiçado em futilidades. Se lamentamos a escassez de tempo para pensarmos em nós, nos nossos projectos e afazeres quotidianos, verificamos quão em perda ficamos no dia em que vemos surgir a oportunidade de viver um dia sem trabalho, ou por ser uma data marcante da vida civil, religiosa ou militar de um país, ou por estarmos de férias. Seja longo ou breve, esse tempo de descanso deve ser vivido de forma mais descontraída e com maior investimento na qualidade dos contactos com os que nos são mais próximos. Não raro assistimos a queixumes de pessoas que dizem não poder acompanhar melhor os seus familiares por não terem disponibilidade para tal. Claro que não é simples distinguir os conceitos de tempo em quantidade e tempo com qualidade, este essencial para promover os equilíbrios emocionais de que tanto precisamos. Partilhamo-los, se os tivermos, em qualidade e razão da nossa forma de compreender as necessidades dos outros, que também necessitam de tempo como qualquer um. O repouso é imprescindível ao nosso crescimento como seres criadores da História, porque também ela se constrói nos intervalos. O tempo é o que de mais precioso nos foi dado, desde tempos imemoriais. Tê-lo para dá-lo, gratuita e desinteressadamente, é uma dádiva cada vez mais rara, presente nas pessoas que não correm atrás dele.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

DA AUSÊNCIA E DO ESQUECIMENTO

A admitir que a memória é susceptível a intervalos de curso, que também necessita de repouso, à semelhança do cérebro e do olhar, resta-nos reconhecer a inevitabilidade das falhas a que frequentemente estamos sujeitos. Falíveis como somos no respeito íntegro das nossas obrigações, as impostas pelos calendários alheios, porque delicados no rigorismo numérico das horas - sabemos que o tempo passa e que, por passarmos com ele, nos tornamos progressivamente frágeis - compensamos atrasos e contrapesamos expedientes válidos e capazes de ultrapassar as limitações anteriores. E porque todos estamos sujeitos a contingências de múltipla ordem, aguardamos a compreensão dos pares para debelar estas ou aquelas omissões. Se descermos ao mais fundo da nossa forma de ser, preocupados em corrigir essas situações, verificamos que elas se perdem no tempo. Nasceram connosco, admitamos, o que não significa que tenham de nos acompanhar indefinidamente, uma vez que somos feitos de memórias quebradiças e de compromissos defectíveis. Só a escrita pode vencer este desfalecimento, em ordem a procurar o repouso curativo que favoreça o equilíbrio entre nós e os outros.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

ACEITAR A DIFERENÇA

A vida é rica em surpresas. Surpreendemo-nos porque recebemos um trabalho inoportuno; porque gastámos o nosso precioso tempo de forma inútil; porque encontrámos, indesejada, uma pessoas negativamente surpreendente, porque altiva e distante nas desumanas funções que ocupa. Umas mais felizes que outras, quando não tão angustiantes quanto o desgaste que implicam, não as podemos rejeitar pela razão de não estarem nas previsões. Se é que estamos sempre a fazê-las... Posicionarmo-nos de atitude mais ou menos coordenada com as dádivas oferecidas, parece garantir estabilidade ao nosso crescimento e não é mau ter de admitir que fomos tocados por um momento benéfico. Isso foi logo que nascemos, por nos sentirmos iguais a outros a nós diferentes. E quão agradável é perceber que podemos ter autonomia suficiente para ir ao encontro dos nossos mais íntimos desejos. Porque queremos realizá-los, temos mobilidade para agir e capacidades para olhar, ouvir, tocar, saborear e cheirar. Ter a noção da vantagem que é ser provido de sentidos, já é uma ampla vitória, donde servirmo-nos deles da forma mais ajustada é a maior riqueza que temos.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O SENTIDO DE GRUPO

Congregar pessoas em volta de projectos válidos e consistentes é tarefa árdua e muito exigente, conquanto sujeita à expressão de diferentes vontades. Quando os sentimentos da generalidade dos seus membros, apontando rumo na mesma direcção, há que manter vivos os propósitos fundadores e bem demarcadas as linhas prometidas, no esforço de cumprir as metas estabelecidas. Para que um plano de trabalho frutifique, se assumido em consenso entre os seus membros, está a priori sujeito ao continuado exame das próprias pessoas que o definiram. Assim também sucede com quem o fica a conhecer na perspectiva externa, onde reside a face mais crítica e insidiosa análise. Responder ao descontentamento de uma possível má execução do projecto, ou à frágil implantação dos trabalhos iniciais no terreno, por intermédio de uma linguagem esclarecida e ponderada, requer empenho e agregação de compromissos, no sentido de acertar agulhas numa rota promissora. Como a estudar um mapa: pode haver um piloto vacilante na escolha da senda prevista, mas se o comandante não corrigir as vacilações do subalterno, a deriva é inevitável. Os cálculos não podem falhar. Esse é o ideal que deve nortear o espírito de grupo, sem tremelejos e dúvidas, mas com firmeza e assertividade credíveis, em ordem a cumprir mais um degrau da História.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

A ESTÉTICA DO FRIO


E no frio impiedoso de um Outono fundo, estação de promessa dos gelos e geadas, já as boas-vindas foram devolvidas, com temperaturas demasiado baixas. Mais um teste à nossa capacidade de resistência, porque também ao termómetro é preciso dizer basta. Se sobe, custa suportar. Descendo, doi sentir o sangue deixar de correr livre. Que fazer para ultrapassar uma onda de baixas tempéries, entre previsões de continuidade? Ideias de uma excelente escolha de um livro para leitura, ou de uma boa conversa entre amigos, podem muito bem servir para sobrepujar o arrefecimento do ar. São as ruas despidas de multidão, as casas fechadas aos sóis distantes, os jardins tapados de branco, pela manhã, como se a beleza da geada criasse outra excelência superior à do sol. Também o aparente desagrado visual pode significar luxo, se julgarmos tudo o que é da natureza como único e preclaro. A beleza pode encontrar-se em tudo o que nos rodeia, se o nosso espírito estiver disposto a perceber a manifestação de solenidade que diariamente recebemos.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

UMA DATA A CONSIDERAR

As razões históricas merecem sempre ser evocadas. E todos os compatriotas deviam estar mais envolvidos na vivência dos motivos que tornaram uma data memorável. Não basta apreciar um dia só por ser daqueles em que não se trabalha, seja santificado ou não. Nem basta deixá-lo passar, como se fosse apenas mais um na conta do calendário. Como se não tivesse nada de especial. Importa dar significado a cada dia que passa, insistimos, porque único e irrepetível, fazendo parte da nossa vida. E porque também fazemos parte de cada dia ao nosso dispor, não podemos abdicar de o preencher de realizações marcantes, favoráveis à lembrança futura. É certo que, pelo facto de sermos sobretudo memória, projectamos trajectos de vida e vamos traçando as linhas do nosso destino com as referências ganhas anteriormente. Tanto os que pouco ou nada se importam em recordar os desejos dos ascendentes, e tanto os que não balizam o seu itinerário em função do necessário rigor com que se deve encarar o futuro, estão emendados. Parecem, portanto, em desequilíbrio de papéis neste mundo, não reconhecendo na construção histórica a sua parte edificante como cidadãos empenhados. O porvir desenha-se com as linhas trazidas do passado. As datas sucedem-se e os factos dominam-se com a consciência activa de que nos pertence a parte mais importante da sintaxe social a que pertencemos.

domingo, 30 de novembro de 2008

REFLECTIR PARA CRESCER

Volvido um mês nestas reflexões suscitadas em simples e anódinos casos diários; estreitadas em palavras abertas e em pensamentos livres, como forma de tornar mais vivido cada dia que passa, recolhamos as vontades de leitura e entendamos novos desafios como meio de dar história à nossa vida. Cada dia que nasce merece ser transformado em parcela de um ementário para ler sempre, porque raro e nosso. Se cada dia for único e marcado por situações imprevistas, até dessas, mesmo desagradáveis, temos razões para o registar como ímpar, donde a exclusividade da vida que temos. Mais ninguém é capaz de pensar o que pensamos. Pode ser capaz de pensar como pensamos, mas estará certamente muito longe de discorrer sobre as mesmas imagens e projectos que qualquer outra pessoa. As mesmas formas de agir e pensar automatizam os princípios de cidadania e tornam os indivíduos excessivamente previsíveis, fáceis de dominar. Enquanto formos aptos a determinar o nosso próprio caminho, reconhecendo a vantagem de sermos irrepetidos seres num mundo que passa com pessoas que ficam, criamos mais que reproduzimos; alargamos mais que abreviamos os horizontes sociais, como margens de um alfobre de homens novos em crescimento sabiamente infundido.