sábado, 10 de janeiro de 2009

PLANTAR A ESPERANÇA


O significado de alguns gestos deve encher-nos de orgulho próprio, não obstante, de tão naturais e repetidos, soem a trivialidades inconsequentes. Plantar uma árvore é definir algumas garantias de futuro, porquanto querermos como certa uma promessa de enraizamento em boa hora, na ocasião de ser assestada à terra. Olhar a raiz que se esconde no calor húmido da fertilidade dos segredos, faz-nos sentir mais capazes e mais crentes na criação de terrenos de prosperidade, passe a metáfora. Acreditar que, dos pâmpanos moles da estação, pode dilatar-se uma flor, e da flor um fruto, é agigantar em nós a revelação das garantias de crescimento de que necessitamos. Uma árvore ensina, portanto, a respeitar a nossa condição humana, nos cuidados de plantação, de rega e poda. É que, vendo-a crescer em viço, revemo-nos na força que se dispõe na dádiva plena de seiva aos outros. Não da seiva branca, leitosa e alabastrina, mas de um sangue de entrega e de transmissão de saberes. Quem deita uma planta à terra, porque quer fazer deste acto uma história superior à sua, sopra na raiz o lado mais eterno da sua alma, para que não morra, não seque, não murche.

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