terça-feira, 6 de janeiro de 2009

MANIFESTAR O SER

Testemunhar a nossa forma de ser e estar é um dos desafios mais exigentes nos tempos em que vivemos. Ouvimos comentários a propósito desta ou daquela pessoa, cujo comportamento logo nos apressamos a censurar, e ajuizamos praticamente tudo o que lemos e vemos. Somos algo disfarçados, pois nem sempre assumimos as palavras ditas como efectivamente nossas, muito menos os reparos meio clandestinos acerca da postura e jeito dos pares. Receamos abrir completamente o átrio da nossa personalidade, porque nos escondemos por trás da ideia de que quando tal acontece tudo resulta em prejuízo nosso. Não queremos interferências nem aceitamos mediações, conquanto lesivas do nosso mundo. Esquecemos, portanto, que se o abríssemos mais aos outros, tínhamos mais razões para tal exigir deles. Dos mesmos que se acomodam nos silêncios suspeitos e comprometidos, incapazes de dar uma opinião em público, sempre receando as reacções estranhas. De tal modo previsíveis, são pessoas nunca trabalhadas para aproximar, para cativar, para saber receber, senão para semear à sua volta um joio que extenua e aprofunda o alongamento das distâncias. Será pela existência de um super-ego muito forte, insistem em afirmar certos livros, que impede a revelação dos sentimentos e opiniões. Podem os livros ter mais razão que as próprias pessoas que os lêem e interpretam a seu critério? De certa maneira, deixar que se esconda parte de nós aos outros é admitir que há um lado escuro, muito pardacento, que se dissimula num riso falso e deixa perceber comportamentos adulterados em espaços perdidos da consciência, quando existe.

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