quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

IMORTALIZAR O NASCIMENTO

Um festejo soleniza uma data ainda mais recordável no futuro. Tratando-se de um centenário de uma pessoa artisticamente feita, novas razões nascem da efeméride. Sê-la, quando em vida o seu alvo convive entre nós, faz desta raridade um motivo de regozijo para todos aqueles que valorizam muito mais o nascimento que a morte. É uma questão antiga de mentalidade, ou de mentalidade antiga, termo-nos habituado a evocar com maior frequência a data de desaparecimento de uma figura relevante no panorama cultural e artístico português. Como linhas aferidoras das orientações formativas de uma comunidade, ou, por sinédoque, de um país por inteiro, nelas estudamos as relações dos indivíduos com as expressões realizadas das emoções vazadas na plasticidade musical ou visual. O abstracto, acima do realisticamente repetido e desanimador, porque pouco desafiante, sobrevém na dimensão intemporal com que uma obra de arte foi concebida e produzida. Investir na capacidade de produzir, muito mais que reproduzir, só está ao alcance dos verdadeiros artífices de histórias, que esquecem o mundo dos interesses imediatos e vivem pela aura fecunda que os inspira a definir um limiar de criação sempre para lá do facilmente visível. Onde querem chegar todos os que preferem olhar para as profundezas do irreal como lugar onde moram os génios eternamente raros. Em longa-metragem.

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