sábado, 13 de dezembro de 2008

A EXCELÊNCIA DO BRILHO


Enquanto os luares altos da quadra nos surgem raros e muito próximos, pedimos outra luz que aproxime ainda mais os homens e avive as relações francas e sinceras. A lição da trajectória do satélite da Terra parece-nos não nos negar que nem sempre é o Homem que procura aproximar-se do infinito. Situações há em que também ele vem ao nosso encontro, na forma natural e surpreendente de uma aurora ou de uma catástrofe. Estamos, isso sim, muito longe ainda de aceitarmos a maravilha ou a tragédia da mesma maneira. E é nesse aspecto que a Natureza, como colo pedagogo inesgotável, nos vai revelando o fascínio pelas realidades que estão para lá da que conhecemos. Ou julgamos conhecer. Não raro sobressaltados pelo imprevisto das nossas falíveis descobertas, de imediato nos acanhamos perante o espectáculo de um fenómeno incomum no nosso planeta, como se se tratasse de uma visita inesperada. Não gostamos delas, é o que é, pois arrazoamo-nos precavidos para o constante assombro dos mecanismos física e matematizados astronómicos. Vemos, então, a nossa pequenez ainda mais reduzida quando avaliada a transitoriedade das nossas afirmações e pensares. A luz mais brilhante que os nosso olhos querem fixar está sempre para lá do nosso próprio horizonte. Buscá-la é fazer crescer em nós uma fé capaz de ir ao encontro do eterno e imutável.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

ENGRANDECER PELO SORRISO

Um sorriso sincero vale bem um dia de canseiras. De nada nos vale, cabisbaixos, ter de aceitar um prazo a cumprir se o fizermos contrariados. Concordar com a vida, no que traz de bom e de menos positivo, aliviando a carga de sacrifícios com um sorriso, faz-nos mais humanos e aproxima-nos da nossa condição de seres em trânsito. Dar um sorriso alenta o espírito. As crianças têm-nos para dar, sem saberem de dúvidas e incertezas, sempre que alguém se dispõe a cativá-las e a aceitá-las num grupo mais alargado de relações. Gostando de se sentir no centro das atenções, sem que isso possa representar uma atitude egocêntrica, cabe à criança perceber que é essencialmente nos adultos que recai a responsabilidade de a fazer crescer nessa condição. Ou seja, o facto de uma criança pretender colocar-se no centro das atenções, pode não significar taxativamente que tenha uma razão de ufania a motivar tal comportamento, mas antes pela revelação de uma necessidade profunda em afirmar-se como um ser em crescimento. Como tal, requer alguma atenção para assumir responsabilidades, donde a primeira já resulta da posição ocupada estrategicamente. O sorriso é o melhor sinal de confiança de que a criança precisa para aceitar os desafios sugeridos ou impostos da maturidade, mediante uma linguagem clara e sem ironias. Porque ainda não domina artifícios linguísticos característicos das fases mais avançadas de crescimento, exige - da forma mais espontânea e livre - ser tratada com limpidez de palavras e gestos. Como todos, afinal, que prezam a sua personalidade e reconhecem na formação pessoal o melhor alicerce de construção social.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

IMORTALIZAR O NASCIMENTO

Um festejo soleniza uma data ainda mais recordável no futuro. Tratando-se de um centenário de uma pessoa artisticamente feita, novas razões nascem da efeméride. Sê-la, quando em vida o seu alvo convive entre nós, faz desta raridade um motivo de regozijo para todos aqueles que valorizam muito mais o nascimento que a morte. É uma questão antiga de mentalidade, ou de mentalidade antiga, termo-nos habituado a evocar com maior frequência a data de desaparecimento de uma figura relevante no panorama cultural e artístico português. Como linhas aferidoras das orientações formativas de uma comunidade, ou, por sinédoque, de um país por inteiro, nelas estudamos as relações dos indivíduos com as expressões realizadas das emoções vazadas na plasticidade musical ou visual. O abstracto, acima do realisticamente repetido e desanimador, porque pouco desafiante, sobrevém na dimensão intemporal com que uma obra de arte foi concebida e produzida. Investir na capacidade de produzir, muito mais que reproduzir, só está ao alcance dos verdadeiros artífices de histórias, que esquecem o mundo dos interesses imediatos e vivem pela aura fecunda que os inspira a definir um limiar de criação sempre para lá do facilmente visível. Onde querem chegar todos os que preferem olhar para as profundezas do irreal como lugar onde moram os génios eternamente raros. Em longa-metragem.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

AGREGADOS NA INTERVENÇÃO

Entre tantos e tão múltiplos interesses, nem sempre divulgados da forma mais apropriada, andam os cidadãos baralhados e mal esclarecidos. Ora por dirigentes de intenções pouco claras, ora por uma Comunicação Social pouco dada aos dois lados de um problema. A opinião publicada, sujeita à particularidade confirmada de uma assinatura e a um número definido de caracteres, tem-se progressivamente afastado da Opinião Pública, mais espontânea e franca que a anterior. Problemas com o peso das palavras, dirão, impedem cada articulista - folhelheiro? - de ser mais objectivo na presentificação dos seus argumentos. Para quando um jornalismo capaz de se documentar mais aprofundadamente acerca das convulsões adstritas aos problemas da Educação, contraditando coerentemente todos os implicados? Que fazer, quando uma pergunta, eivada de falácias, não é de imediato rebatida pela pessoa que a lançou de forma profissional? Havemos de continuar a dar partido aos que mais intervenção têm, por serem responsáveis por orientação duvidosas e nada dignificantes para um País que se quer pôr em velocidade de cruzeiro nas inovações tecnológicas? Perguntas sobre incertezas, muitas, que as respostas vão sendo dadas no confronto ideológico respeitoso dos pares. Sem perturbar o normal andamento das tarefas, que terceiros não podem ser atingidos por tais consequências. A decisão de defender interesses por intermédio da luta é pessoal, quando tomada em consciência, tornando-se partilhada no momento da intervenção. A cidadania activa assim o exige.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

CONTAS QUE CONTAM

Na (in)fidelidade crua dos números, lá vamos mantendo a esperança em que todas as nossas contas batam certo, nem sempre atendendo da forma mais acertada aos imponderáveis dos tempos modernos. Efeitos breves sobre efeitos repetidos, dos muito modernos, aí estão de vez a perturbar seriamente a confiança nas cifras, não raro substituta da confiança nos próprios donos das contas. Calma, pedem, e muita!, para aplacar as ondas de choque vindas de fora, como é histórico, lá dizemos. Depois, há o efeito de cada notícia publicada, demasiadamente grande para ser secundarizado, sobretudo quando se trata de ter políticos a fariscar os milhões que tilintam dos impostos contrafeitos dos cidadãos avezados pelas obrigações antigas. Também os bancos parecem aprender agora como resistir às contingências dos sucessivos panoramas ilusórios que foram criando. Bancos brancos de honestidade, que, essa, nunca se contou em moedas, senão em notas de boa monta, das que se guardam na bolsa da educação e lisura. Foi no que deu, olhar para as acções dos outros com ares farisaicos de avarentos podres. Queremos as nossas acções em alta, contando só com o que temos e que achamos sempre pouco, ignorando cegamente o rumo que podem tomar, caso passemos ao lado das parcelas de valores que nunca se devem arredar das nossas contas certas.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

DO PROFANO OU NÃO

O profano nem sempre coabita em equilíbrio com o sagrado. Quando a balança pende mais para um dos lados, quem perde é a própria existência, donde a urgência de procurarmos captar do sobrenatural a nossa satisfação de reconhecer que somos mesmo limitados e de pequenez cimeira. Ainda haverá muitas pessoas que entendem impossível a associação de perspectivas, optando prioritariamente pela perspectiva materialista no entendimento do mundo. A estabilidade entre ambas pode concorrer para o nosso bem-estar, se soubermos dar campo suficiente para que cada uma se expresse livremente e dentro dos limites da tolerância, da concórdia e da condescendência. Estando próximos destes valores, mais perto ficamos de poder criar e manter laços de verdadeira fraternidade e conciliação. Os nossos comportamentos, enquanto provas da formação individual, revelam jeitos e intenções adquiridos ao longo da vida, pelo que se devem orientar na linha da honestidade, seriedade e liberdade. Porque sentimos que pode muito bem ser na diferença que a nossa forma de ser e de viver deixa marca visível, procuramos defender uma atitude aberta e franca de assumir as nossas escolhas, sejam elas de ordem sagrada ou não. Estar de bem com os outros, mesmo perante opções profundas de formação, implica estar bem connosco próprios, na assumpção de critérios de conduta pelos quais entendemos, sem rodeios, pautar a nossa vida, sempre dentro de parâmetros de lealdade para com aqueles que tomaram importantes decisões por nós, nas idades de ausência de memória consciente.

domingo, 7 de dezembro de 2008

OS PENSAMENTOS SÃO ETERNOS

A morte de alguém é sempre de lamentar, principalmente quando se trata de uma pessoa com quem tivemos a oportunidade de privar. O que nos aproxima ou afasta dos outros pode ser o feitio, a aparência, este ou aquele traço peculiar que julgamos defeito. Ou até as palavras, ditas ou escritas. Quantas vezes as escritas aproximam mais que as ditas, mormente pelo facto de promoverem a reflexão, urgência dos tempos correntes, tão contrária aos interesses imediatos a que somos arrastados. Haverá outros motivos de foro mais íntimo, que nem sempre partilhamos abertamente com quem pôde estar perto de nós através da escrita. Surgidos das sugestões da leitura, ficam os pensamentos em trabalho interior até que a sua montagem se efective, tal qual uma parede. Não para enclausurar o nosso pequeno mundo, mas para nos obrigar a olhar o céu e a elevar as nossas vontades bem acima do chão que pisamos, como forma de fazer da nossa solidão e isolamento um baluarte mais resistente e duradouro. Para uma pessoa que registou as memórias que foi construindo, a memória perene de a ter para sempre viva nas páginas publicadas, porque essas não desaparecem - ressurgem a cada leitura, em razão a tornar a parar o tempo no tempo em que a vida parou.