terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A MEMÓRIA DOMINA O TEMPO


Uma despedida soa sempre a triste quando, juntos num sentir pesaroso, nos apercebemos da rapidez com que a nossa história se tece; quando as pessoas se aproximam a trocar votos mútuos de coragem e confiança, em momentos em que, mais que com as palavras, reconhecemos no silêncio a transitoriedade da vida. Porque tudo é breve e a nossa presença aos olhos dos outros é curta, que fazer, então, para prolongar a nossa estadia na memória da comunidade? Educá-la. Justamente! Educar a memória é a missão mais edificante que podemos ter enquanto seres produtores de cultura, que passamos modelos de comportamento de geração em geração. Só a memória pode contornar a inevitabilidade do tempo que passa e recuperar o passado, tanto o das recordações agradáveis como o dos remorsos, e pode ser manipulada a nosso contento. Não somos seres habilitados a controlar o matematismo dos segundos que passam, senão pela competência da memória, mediante a qual conseguimos dominar o curso dos dias porque podemos geri-la em sentido retrógrado. O normal seria conformarmo-nos com a infalível sequência de instantes, sempre em trânsito prospectivo, mesmo que não os aceitássemos de maneira mais consentânea com a história. Puxando mais para a frente, ou para cima, consoante os pontos de vista, ao tempo cabe o trabalho de a ele nos submetermos. Inflexível, sabemos, todavia, que o tempo nem tudo consegue subjugar impunemente, pois ainda nos resta a faculdade de reprimir, em breve curso, os andamentos de cada período, servindo-nos da memória como esteio modelador do eixo cronológico a que estamos presos.

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