quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

SEM CAPÍTULO ZERO


Ciclo sobre ciclo. É a nossa vida a refazer-se nos dias de mais promessas que garantias; mais juras que conquistas, a arrastar uma confiança meia desaparecida nas névoas dos desentendimentos gerais. Tudo é global, até a descrença num futuro melhor, que não deixa margem satisfatória a cada indivíduo para revelar o desconcerto da era que vivemos. São os medos de virmos a reprovar na aceitação dos outros, em pessoa ou em instituição colectiva, que nos tolhem a liberdade de anunciar o necessário equilíbrio a todos. É, pois, um risco sério, manifestar o desagrado do falhanço do sistema político que incorporou regimes de expressão sôfrega da economia, agora náufraga de interesses tão passageiros quanto ocos os caminhos traçados pelos responsáveis de tal situação. Que espaço, portanto, cabe ao cidadão, senão ter de aceitar uma ordem feita de solavancos incómodos? Entrámos na história das realidades familiares sem direito a qualquer experiência, tendo nascido logo em um dia de um qualquer mês, num qualquer ano-etapa da história mundial, abandonada a experiências mais ou menos consequentes. A nossa narrativa faz-se no imediato e sem direito a prólogo, porque ninguém parece ter tempo para endireitar as veredas que os nossos olhares vislumbram. Somos logo vida, em choro convulso, parte de uma outra vida mais solícita, anos mais tarde, transformada numa avidez obstinada com a posse do material e abraçada em egoísmos hipócritas, condicionados por sistemas de difusão da informação conveniente que vão lentamente afastando das vidas exemplares de pessoas ainda presentes em nosso meio. É preciso olhar em frente, com um renovado estudo sobre os dias que nos trazem vivo o apetite de estar vivo.

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