sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

DA PRESSA DO USO

Depois do assombro dos embrulhos e das surpresas sem preço, regra do social que a aparência manda, para evitar a preocupação com a nossa materialidade, regressamos ao desaforo da vida normal, já na espera das novas festas que não demoram. Preparamos quase tudo, a contento de prazeres bruscos e de convívios mais ou menos duradouros, enquanto existem. Porque tudo tem um tempo, sendo-nos impossível de o fixar eternamente, do desembrulhar das prendas ao uso já cansado dos brinquedos onde elas vinham, tudo é breve como o rasgar dos papéis que escondem as novidades. E logo assistimos ao encher de sacos de papéis que perderam o mistério de esconder o desconhecido, porque deixaram de encobrir o que não se conhecia. Numa parte. Sabemos sempre metade, é o que é, porque gostamos de dar aos outros apenas uma parte dela. Seja no formato do embrulho, seja no material de que o interior pode ser feito, não abrimos o jogo por completo, para manter o enigma até a hora da nossa decisão. Se pudermos, damos hora para o desfazermos, enquanto donos de uma oferta. Ordem com um tempo breve, também, conquanto conscientes da (in)utilidade dos brindes entregues. Porque tudo é breve e conciso, e sentimos o inevitável da paragem do tempo, procuramos retardar os segundos vivos de alegria em memórias de registo fotográfico. As excelentes não precisam de ficar embrulhadas. As melhores entregam-se sem papel e sem colorações.

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