domingo, 31 de dezembro de 2017

RECOMEÇAR


Entre o fim e o recomeço. Eis-nos perante o ciclo inevitável da sucessão das coisas em que também estamos. Fazemos parte dele e nele somos chamados a completá-lo com a peça que nos foi dada logo na origem, mesmo muito antes dos primeiros vagidos. A nossa voz é essa peça de que a máquina que revoluciona os dias precisa para preencher o vazio em que frequentemente caímos. Uma máquina que exige contínuas reparações, quantas vezes por uma palavra ou até um olhar alheio. E ainda que a menor falha possa implicar uma perturbação sistémica irrecuperável, há que redefinir a linha e programar novo equipamento.   
A conclusão de uma etapa é um estado necessário da organização temporal. Reposiciona o indivíduo e apura as capacidades humanas de concretização. De outra forma, é na reconfiguração de desafios que assumimos a nossa condição de construtores de um mundo mais perfeito e que se (re)faz de horizontes em criação constante, ou não fôssemos hábeis na projecção de vontades e sentidos no futuro, onde, sem conhecimento certo algum, tudo parece ser possível. De etapa vencida a etapa prometida, assim os humanos derrubem muros, criem outras fronteiras e viajem rumo a impossíveis ontem assim julgados. É que não somos mais uma confirmação do passado - somos, outrossim, a audácia fecunda de novos estádios de matéria inalcansável. E procuramos, ainda que sem absolutas certezas, níveis de realização que despertem vindouros a novas conquistas, ao invés de ancorarmos o que já conhecemos num tempo invariável e disposto para arquivo.