A
vida é sempre curta, diz-se. A separação das coisas que ao terreno concreto nos
ligaram resolve-se no pó das origens, como regresso à fundação das substâncias
mais transparentes que a aprendizagem dos dias nos vai dando gratuitamente.
Partir não traz uma perda infinita, ainda que irremediável, da presença de quem
desejamos lembrar eternamente, mas significa um ganho mais na nossa memória que
queremos sempre viva. Afinal, se tivermos vida a sério no íntimo mais fundo,
estamos a garantir a suspensão do tempo, em ordem a conservar presente uma imagem,
gesto, palavra, aroma ou olhar de quem já nos espera, pedindo lucidez até ao
fim, sumário das lições dadas ao longo da existência que persiste. A parte do
que se conheceu foi incompleta – é sempre assim – e daí o abatimento sentido,
por reconhecermos a inexorabilidade própria do acto de viver. Ficam os familiares,
amigos e demais pessoas a tentar completar o projecto de vida remoto encetado,
sem termos sabido exactamente nem como nem quando. Ficaremos expectantes,
aguardando pela resposta impossível de dar por quem, na quietação dos silêncios
e na placidez dos olhares derradeiros, se despediu sem aflições nem desdéns. É
assim mesmo: os maiores sinais de gratidão com a vida ficam para o fim dos
nossos dias, na espera lenta dos chamamentos vindos de outras humanidades que,
de uma forma ou outra, ansiamos. Lá, onde só a memória consegue dizer que a
vida é o dom inesgotável de estarmos próximos, porque competentes para
suspender o tempo a nosso favor.
terça-feira, 15 de abril de 2014
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