domingo, 2 de novembro de 2014

AO LADO DA SAUDADE

As lembranças que gerimos tornam-se grandes com o tempo. Sucedem os anos, entre as misérias dos achaques quotidianos e as euforias passageiras de uma conquista ilusória, eis-nos frente aos intervalos dados pelos ciclos possíveis. É, pois, ao tempo, que devemos as maiores explicações dos mistérios da vida, tantas vezes interrompida de forma inglória. É sempre breve, dizemos, e assim se consome a maior fatia da história de cada um, na espera que se repete. Que fazer para ganhar uma nesga de eternidade? E se não for em solidez de pensamentos, que seja ao menos em obra visível e atitudes... Assim, em contas finais, o que deixamos a quem mais gostámos: momentos e mais momentos. Se possível, seriamente marcantes, porque a nossa vida é solene demais para andar entretidos com insignificâncias e desperdícios. Momentos que queremos guardados nas memórias tranquilas de cada um, em vivência silenciosa de afectos e saudades, não raro alimentadas pela crença de vida sem fim, que nos aproxima do espírito daqueles que, para nós, marcam a sua ausência orgânica, material, concreta. Acima dela, todos os tempos de separação nos trazem a presença incorpórea de quem mais nos marcou a existência e a razão de ser como somos. Estar ao lado dessa saudade não é estar à margem dela, mas vivê-la em presença firme e capaz de provocar em nós o eco intenso de partilhar uma realidade única e profícua.

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