domingo, 9 de janeiro de 2011

OS DOIS LADOS DE SER

Educar o espírito, fermentando-o como substância de crescimento permanente, é das obras mais difíceis que a vida projectou para cada um. Descobrir, primeiro, o sentido em que o mesmo deve ser polido, é das tarefas mais aliciantes que a vida nos reserva, se, para tal, nos predispusermos a aceitar cada pergunta como mais um desafio que vai completando as sucessivas etapas formativas. Por ser um traçado continuadamente ponderado, corrigido e refeito, exige a mais empenhada dedicação, como estratégia consciente de promoção do nosso autoconhecimento. Porque o mistério final somos nós próprios, como Oscar Wilde sabiamente escreveu, a propósito da árdua tarefa de nos conhecermos primeiro, torna-se fundamental nivelar os percursos que nos conduzam ao mesmo plano de empenhamento social. Assim, o verdadeiro upgrade deve passar naturalmente pela atitude assumida de conquistarmos a nossa posição no espaço coabitável que é o mundo, porta sempre aberta à intervenção arreigada a valores consolidados no equilíbrio dos arranjos individuais, de gestão complicada e estranha, que outros mais afasta que aproxima. Acreditar, portanto, nessa qualidade de descoberta constante, já é um passo dado para nos acentuarmos a diferença entre os que agem como humanos-instinto e os humanos-discernimento, os que tomam decisões em favor do grupo a que pertencem, e nunca a contento próprio. É que quando uma pessoa se conhece bem a si mesma, sente-se capaz de rasgar horizontes onde outros apenas vêem exalações orgulhosas de palavras estiadas.