terça-feira, 27 de dezembro de 2011

EM PRESENÇA DA LUZ

Independentemente da severidade da estação com que o frio nos visitou (são os rigores cíclicos a lembrar o cuidado com a necessidade de agasalho), vivemos as festas nas amizades cultivadas ou no calor do ambiente familiar, definindo encontros propiciadores de alegria que marque os dias nem sempre auspiciosos. Qualquer celebração precisa de uma data para facilitar a reunião, mas não basta só por si. Vai muito para além do calendário, porque a ela estão associados os significados exclusivos de que convivem aqueles que partilham os mesmos interesses pelos festejos. O que é o mesmo que explicar a imprescindível necessidade humana de comunicar, em presença de quem nos reconhece como pessoas de bem. O encontro é, portanto, já em si uma celebração facilitadora do contacto ansiado por duas pessoas que querem muito estar juntas. Pelo menos duas pessoas, porque à festa podem ser chamadas mais, desde que haja uma relação de proximidade com os responsáveis pela respectiva organização. Em verdadeira ocasião de partilha, as pessoas combinam hora e espaço propícios à revelação dos sentimentos e esperam pelo momento certo de um toque luminoso capaz de inspirar as palavras e suscitar a doação mútua, em manifestações de afecto aceites de livre vontade. É aí que o céu se abre e a crença cresce, apesar da despedida refeita numa última curva, em direcções opostas, mas com o fito na marcação de novo encontro num dia novo, onde a luz surja logo aos primeiros acenos de presença sensível.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

EM SABEDORIA E PLENITUDE

Uma vida que procure estabilidade, longe do alcance de projectos visíveis propiciadores de bem-estar físico, requer esforço interior e abnegação. Um desafio sem arrogância e isento de egoísmos. É a conquista das nossas realizações, em base de confiança e firmeza, que deve ser o centro das grandes motivações da vida, tarefa sempre incompleta, mas que por ser vista dessa forma, não pode impedir de atingir as realizações em pleno. Procurar, na partilha generosa de afabilidade e benevolência, restaurar as energias de quem connosco convive, representa o princípio de busca dos contentamentos sólidos de que precisamos. Este é o sentido útil da nossa existência, considerando o ser humano em formação constante capaz de robustecer as suas competências de auto-conhecimento. A sabedoria é a construção individual da felicidade, num empenho incessante que não pode depender de condicionalismos externos, estes mais sujeitos a contingências de variada ordem, e a ela cabe a explicação dos trajectos escolhidos rumo à plenitude. Ela é assim uma espécie de idioma verdadeiramente universal, que todos querem dominar, mas não conseguem. Uma espécie de ponto de contacto entre o que está perto e o que está distante. E estar próximo já pode ser um degrau na conquista dessa plenitude que os que vivem pelos princípios tanto anseiam. Uma vez captados e aprendidos, permanecem na nossa posse e regulam os nossos comportamentos, na demanda da perfeição. Essa procura é um meio para roçar a plenitude, que pode existir num coração palpitante, que revela ao outro a razão de viver e escolhe o momento certo para o dizer. E porque a vida deve propiciar muitos momentos do género, não há que recear repetir as melhores palavras para partilhar o que há de mais justo no mundo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

CONSTRUIR A FELICIDADE


Lutar pela felicidade, acreditando na sua conquista, mesmo a partir dos sinais quotidianos mais elementares, é razão suficiente para apostarmos a sério em nós, como pessoas capazes de edificar relações duradouras. Do fundo da essência humana, é à verdade de querer ser feliz que devemos os dias mais singulares que temos. Por isso inquietamos as rotinas e desafiamos quem sabiamente consegue perturbar o que somos, sem receios de perda. Uma certeza norteia quem acredita nela como alcance do domínio da memória afortunada: a felicidade não pode existir enquanto estivermos longe dos sentidos de partilha. E, enraizada nesse valor, ganha quem mais der, porque os créditos não dependem de finalidades numéricas, mas de intuitos de crescimento da individualidade afectiva. Parecendo raciocínio paradoxal, o encontro semântico dos termos ganhar e perder só é possível quando se participa em total doação. Estar no caminho da felicidade é compreender os horizontes do diálogo aberto e livre dos incómodos e complexos pensamentos que nos vão desviando do que é realmente fundamental. Aquilo que podemos qualificar como um jogo, em que o resultado final directo pouco ou nada conta, tem por base a conformidade dos actos de caminhar em direcção ao outro, sempre que nele vemos a projecção do temos de melhor bem dentro de nós. Estar próximo da felicidade é, portanto, aceitar as incitações sadias e fazer delas compromissos merecidos de júbilo interior, porque o contentamento nascido das palavras e gestos tem de marcar definitivamente os dias que nos restam.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A INCLINAÇÃO DO REGRESSO

Não parecemos humanos, quando, na fuga aos encontros necessários, falham as palavras para definir estados de alma para lá dos anos volvidos. Depois, reconhecidas as imagens dos espaços outrora percorridos, por activação da reminiscência, ganhamos vida própria, aparentemente consolidada em rendimentos capazes de sustentar os conceitos de bem-estar que procuramos. Porém, convencidos da perenidade dessas sensações, adormecemos nas satisfações imediatas e desviamos a atenção do que devia ser efectivamente duradouro. De tantas oportunidades para a criação de laços de sempre, tememos a verdade da relação e olhamos para o lado, como se a vida estivesse sempre pronta a entregar-nos o que tem de melhor. E desconhecendo o futuro, pesamos a nossa história, em maior ou menor dose de intuição, e impomos a racionalidade a falar por nós, por ser capaz de descrever melhor as etapas do crescimento lento. Quantas vezes ela nos enganou, principalmente por reconhecermos uma inevitabilidade vizinha da tradição e educada pelas gerações anteriores, ou por vermos num determinado espaço a ausência das nossas raízes, fundadas distantes, o que também pode condicionar seriamente a afoiteza de uma pergunta feita de modo meio atrevido e mesmo depois de um sim despertador de alegrias infindas.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

PELO CONTACTO VIVO

Vivemos para construir e corroer o anteriormente edificado. E tudo num constante ciclo de elevação e derrube, em substituição de sinais de realização humana que se vão sobrepondo no decurso dos dias. Como eles, a dar lugar aos meses e anos, porque tudo existe pelo sentido da transformação. Só mesmo a memória, para recuperar os passos dados, os tempos gastos e as imagens esboçadas e prontas. Ela é a mestra capaz de explicar todas as transferências de relações delimitadas pelas tendências de situação e pelas necessidades, mais ou menos espontâneas, de nos revelarmos seres em construção permanente, entre o que passou e o devir, num curto intervalo de hipóteses, perguntas e novas dúvidas, porque as respostas só se conquistam pelas experiências. Ir ao encontro delas, na simplicidade da linguagem e lhaneza de gestos, é mais de meio caminho para nos aproximarmos dos outros que sentem as mesmas urgências de contacto. E porque é urgente comunicar com verdade, para lá das barreiras inventadas da proporção tecnológica desfasada, que arreda os homens da abertura de espírito, aceitamos um convite, perto ou longe, pouco importa, para tornar mais únicos os nossos dias de passagem entre vidas. Vale realmente a pena, quando assumimos o sim como contributo de realização mútua, porque tanto nos enriquecemos com a troca de impressões dos que nos ouvem, como estamos prontos a engrandecer quem reclama a nossa comparência. Afinal, de que servimos, se não estivermos prontos para servir? É assim que lançamos investimentos e aceitamos suores capazes de levantar projectos, na concretização daquilo que julgamos ser capaz de amplificar a nossa relação com os outros. Por haver valores, história e sentido de cooperação.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

PARA LÁ DE NÓS

Parece não existir, comprovadamente, vida sensível em planetas para lá da Terra, como a concebemos, em corpo e razão. O que vai sendo certo, até que haja confirmação epistémica contrária, é a convicção da existência da completude da realização ontológica neste planeta habitado, em estreita relação com o espaço dominado pelos seres humanos, que existem para fundar novos modelos de comportamento e instituir sentidos de organização progressivamente elaborados, ainda que nem sempre com a maior eficácia. É a pensar desta forma que se consomem horas sobre horas, em cimeiras e colóquios, junto de reputadas figuras que promovem constantemente uma imagem de protecção das causas que defendem. E os homens nunca pensaram viver sem companhia cósmica, depois de terem andado à procura de amostras e sinais de géneros vivos, mais ou menos evoluídos. Mas não. Foi pela avidez de outras realidades, que não as suas, que muitos homens inteligentes investiram quase todos os meridianos e distâncias para ir ao encontro de desconhecidos sítios antes escolhidos. Ou talvez não. Mas só de longe, que as máquinas que se fazem não conseguem chegar a todo o lado: é a temperatura, a pressão, os agentes ou corpos estranhos, mais a autonomia, que o que se pensa antes da partida traz surpresas durante a viagem. Muito azul, muitos sonhos e aventuras, para mostrar que o ser humano era capaz de acreditar em vida renovada, muito, mas mesmo muito para lá de si mesmo. Mas continua sozinho, sem amigos estranhos ou visitantes de circunstância. Que desperdício…

domingo, 9 de janeiro de 2011

OS DOIS LADOS DE SER

Educar o espírito, fermentando-o como substância de crescimento permanente, é das obras mais difíceis que a vida projectou para cada um. Descobrir, primeiro, o sentido em que o mesmo deve ser polido, é das tarefas mais aliciantes que a vida nos reserva, se, para tal, nos predispusermos a aceitar cada pergunta como mais um desafio que vai completando as sucessivas etapas formativas. Por ser um traçado continuadamente ponderado, corrigido e refeito, exige a mais empenhada dedicação, como estratégia consciente de promoção do nosso autoconhecimento. Porque o mistério final somos nós próprios, como Oscar Wilde sabiamente escreveu, a propósito da árdua tarefa de nos conhecermos primeiro, torna-se fundamental nivelar os percursos que nos conduzam ao mesmo plano de empenhamento social. Assim, o verdadeiro upgrade deve passar naturalmente pela atitude assumida de conquistarmos a nossa posição no espaço coabitável que é o mundo, porta sempre aberta à intervenção arreigada a valores consolidados no equilíbrio dos arranjos individuais, de gestão complicada e estranha, que outros mais afasta que aproxima. Acreditar, portanto, nessa qualidade de descoberta constante, já é um passo dado para nos acentuarmos a diferença entre os que agem como humanos-instinto e os humanos-discernimento, os que tomam decisões em favor do grupo a que pertencem, e nunca a contento próprio. É que quando uma pessoa se conhece bem a si mesma, sente-se capaz de rasgar horizontes onde outros apenas vêem exalações orgulhosas de palavras estiadas.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

REAVIVAR POSIÇÕES

Pior que os sinais de depressão colectiva que dia após dia enchem os ouvidos e os olhos dos cidadãos mais atentos, é admitir que há sempre pessoas interessadas em manter no fundo as formas de agir alheias, sem se assegurarem das justificações da legitimidade das opções assumidas. Gerados supostos equívocos, passam a estar na agenda reuniões sobre reuniões, como tentativas de resolução de conflitos espontaneamente surgidos apenas da existência de entendimentos díspares de uma mesma situação. Definem-se tempos de intervenção e clarificam-se intenções, como se se tratasse de ampliar formalidades vãs, mas sonantes. Ainda aí, o que mais parece de maior sinal e o reforço das posições antes defendidas. O que significa dizer que por muitos impedimentos que surjam, devemos ser nós mesmos nas decisões tomadas, sem arrogâncias, mas com o necessário alcance de alguns anos de avanço. Nem que sejam poucos, mas na coerência dos princípios que nos regem, há que manter uma disposição capaz de ir ao encontro das nossas exactas convicções. Colidam ou não com as ideias dos outros. Essa é uma necessidade de quem age em liberdade de pensamento e manifesta-se em rigor e total coerência com a sua concepção da realidade. Portanto, e independentemente dos desvios de palavras, qualquer pessoa deve um esforço em compreender esta posição de princípio. Valerá muito pouco, para alguém que duvide da determinação mantida na defesa dos termos em que pronuncia determinada opinião.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

PACTOS DE AVANÇO

A história também se vai definindo e escrevendo nas linhas de atrevimento, pessoal ou grupal. Conscientes de que o rasgo de iniciativa nem sempre é nem pode ser o mesmo, em função dos sinais colocados aos nossos olhos, por força de poderosos meios de comunicação social, cabe-nos repensar os modelos ainda vigentes como paradigmas com os dias contados. Saber se é culpa do caudal tecnológico e informativo, isso nem interessa. Mas cabe-nos a responsabilidade de estar alerta para possíveis ameaças às capacidades fundadoras dos nossos próprios caminhos. Porque sabemos ser competentes na criação de rotas pessoais, assumimos os cuidadosos desvelos no resguardo da nossa integridade como seres construtores da história. Não se trata de deitar abaixo os estabilizadores de vida que outros há muito criaram, como o emprego permanente ou uma família eternamente estável, mas antes recuperar valores que favoreçam a consolidação de posturas decentes e que dêem garantias de futuro. Alguém de chinelo roto ter-se-á sentado num sofá de mansão, e adormecido num sonho de Peter Pan, acreditando nas inspirações oníricas de terapêutica perpétua. Conhecer o mal, primeiro, para recorrer a novas formas de convalescença, usando novos métodos de tratamento, depois, parece ser o mais acertado percurso a fazer para atinarmos numa direcção promissora. Um destino colectivo não é a mera soma dos destinos individuais, mas sim a combinação de muitos projectos de matriz comum, a do interesse global e conciliador das gerações. Reformas impostas em jeito de capitulação não podem dar bons resultados, senão sustentadas por mais firmes valores de distribuição equilibrada das riquezas. São de todos e a todos pertencem.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

PLANEAR DESAFIOS

Nem sempre retomar uma tarefa se revela acessível a quem tem de a aceitar. E não são só as interrupções festivas que perturbam a sequência dos dias de afazeres marcados pelas rotinas em busca das tão propaladas competências. Quem as tem, das duas uma: ou se aperta no convencimento de que ninguém alheio as pode esvaziar, ou potencia-as em favor do colectivo a que pertence. Porque o curso do tempo não retoma origens, há que definir metas susceptíveis de serem ultrapassadas, dentro de parâmetros ajustados à responsabilidade social de cada um. Conquistadas, logo se mostra de determinante exigência alcançar alvos novos, propiciadores do alargamento da imagem que temos de nós mesmos. Cada dia que passa é mais uma etapa ganha na sua construção, em procura permanente de horizontes que concordem com a nossa mais natural maneira de estar no mundo. Crescer é planear desafios, abrindo-os em cor e mistura com o universo dos outros, percebendo que é do concerto de gostos e intenções que o entendimento das coisas adolesce. Fomos gerados para compreender, dominar e integrar o que está edificado no campo das possibilidades diariamente alargado, graças aos sucessivos estágios em que somos colocados. Pesadas as circunstâncias em que cada aprendizagem é feita, e afastadas imolações de carácter, é no realismo das dificuldades que mostramos ou não estarmos à altura dos impulsos nados do imprevisto, sugestão inédita face à qual nunca devemos deixar de acreditar nas nossas virtualidades.

domingo, 2 de janeiro de 2011

MANIFESTAR A DISPONIBILIDADE

É na convicção da importância do sentido de iniciativa, como norma fundadora da tomada de decisões, que devemos radicar os nossos princípios de vida. Num ano que ainda mal começou, em que definir metas ganha particular valor e traçar projectos adquire especial sublinhado, tecem-se variadas considerações acerca da melhor forma de podermos conduzir os nossos destinos, mais ou menos condicionados pelas circunstâncias sociais e económicas. Esta mesma base de que tudo parece nascer, assumiu o zénite das preocupações de todos, praticamente sem excepção, e nada mais se apresenta como essencial à gestão dos futuros globais. Todavia, não se pode desprezar a educação sob regras de conduta moral e ética das gerações vindouras, como forma de promover a criação de indivíduos capazes de estabelecer justos domínios de intervenção e de se revelarem plenos de responsabilidade, mormente em favor do surgimento de comunidades publicamente empenhadas. Muito necessitados disso, por via do afastamento progressivo das pessoas que davam corpo a iniciativas enriquecedoras, a que um dominador comodismo não é alheio, torna-se imprescindível recolocar o desembaraço dos inúmeros exemplos conhecidos outra vez no centro das nossas atenções, encorajando os jovens na conquista do seu lugar na sociedade. Assim, estamos convencidos, podemos encarreirar em definitivo na construção de uma sociedade mais justa e sem desequilíbrios de recursos. Quando todos quiserem defender o que a todos pertence e puderem apetrechar-se das armas da aprendizagem ao longo da vida, estaremos mais aptos a deixar bem alicerçada a nossa passagem terrena, para que outros depois possam edificar outros monumentos que assinalem a dignidade das nossas acções. Porque todos podem.

sábado, 1 de janeiro de 2011

ASSENTAR A INICIATIVA


Haverá muita gente que ainda festeja a entrada do novo ano, olhando com nostalgia para o que terminou e prevendo meses austeros e de contenção. Entre o possível e o realizável, praticamente todos convivem da opinião de que os tempos não auguram contentamentos nem descansos, já que aos cidadãos impende a responsabilidade de resistir e suster aquilo que parece a maior ofensiva contra os seus aforros. Olhando a longe, de quem alcança na distância a intuição ganhadora de um investimento, retirar proventos a rasgo meramente político não é a melhor solução para resolver a crise em que nos encontramos. Para mais, parece crível que, perante um cenário já de si escurecido, em que a palavra mais gasta desanima e os recursos se apresentam progressivamente escassos, impor taxas e exigir justificações submerge ainda mais uma nação que já não se encontra encorajada o suficiente para arremessar-se a novos e mais sólidos desafios. É neste quadro que o sentido de iniciativa adquire especial importância, dado tratar-se de um elemento cultural fundamental da nossa forma de ser portuguesa. E reconhecendo a valia da inspiração individual, que surge amiúde, devemos concentrar energias para acreditar na força colectiva das diligências postas à disposição do colectivo, porque só assim podemos atingir níveis de realização mais sorridentes. Não bastará, portanto, improvisar, que aí também nos distinguimos de outras mundividências, outrossim, apostar na capacidade de organização e aprofundar as regras de planeamento, como estratégias de controlo de rumos de vida que se pretendem harmoniosos.