quarta-feira, 13 de outubro de 2010

RESGATAR A ESPERANÇA

A metáfora de um buraco é recorrentemente empregue como tentativa de definição do actual estado social. Perdemos horas e horas a avivar a aritmética familiar e as nossas capacidades inventivas, perante um quadro que esboça um futuro descrente e mostra um rumo em falência progressiva. Pessimismos à parte, pelo que se dá a entender, estaremos a pouca distância de um abismo cujo espaço se desconhece em concreto, mas que existe, porque, infelizmente, já aí capitulámos. Em fase de acentuado desconforto e lenta perda de ânimo colectivo, eis que um imponderável surge para reunir homens em torno de uma solução. E logo nos apercebemos das fragilidades humanas, perante as colossais obras da Natureza. Olhamos à nossa volta e não alcançamos a completa distância que separa a necessidade urgente de intervir da nossa finitude, imagem final que surge como evidência em construção. Confinados a um espaço que se vê sempre curto, de imediato por força do imprevisto e por da via da ingénita demanda de horizonte, e contra a crença inicial que esbarrou no inevitável tempo a dar aos estudos, estão muitos de nós na espera de um amanhã mais sorridente. Por nos sentirmos em perda das forças raras que temos, muitas vezes invisíveis, vacilamos ao mínimo contratempo, valendo a fé individual para suster as investidas. Valem, por ora, palavras de conforto e de encorajamento, como forma de ir ao encontro de quem resiste e acredita, usando falas claras e verdadeiras. Como as estrelas, afinal.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O PREÇO DO ATREVIMENTO

Somos, desde muito cedo, modelados por vontades que a nossa consciência, ainda distante do olhar, não consegue explicar. Temos um carácter mais ou menos definido, consoante as circunstâncias hereditárias, e sofremos as influências familiares de acordo com as preocupações dominantes. Querem-nos fiéis aos princípios de tradição do apelido, caso se trate de pessoas muita afectas ao quadro social em que se integram, ou deixam esse tipo de inquietações para um futuro de absoluta autonomia. Julgam, portanto, que cada novo ser pode ser formado por si só, e que é na mercê ocasional dos dias que a personalidade pode ser ajustada. Diremos que nenhum destes dois modelos poderá vingar sem a presença do outro, numa espécie de jogo de aceitação e combate; de acatamento e disfunção. Humanos desde uma origem mais ou menos premeditada, seremos sempre assim pelos tempos além, numa mescla de asserções e negações do que a vida nos prodigaliza. Avançamos e recuamos, conforme as intuições, nem sempre em total disponibilidade para nos afirmarmos integralmente livres. Criados em função de um equilíbrio saudável, estaremos aptos a escolher a melhor ia, entre as melhores possíveis, porque assim nos moldaram o carácter. Fora isso, e aceitando que o indivíduo é também um anima subversivo, sobrevém a ideia de que é sempre necessário deixar uma larga margem ao desvio e à erupção da evasiva comportamental, como forma de nos podermos revelar em diferença. Há muito por onde escolher, desde simples gestos a desafios simulados que pareçam roçar mais a vergonha nos outros, tudo pode ser nascer na imaginação, porque totalmente emancipada das cadeias antigas dos primeiros tempos de construção do temperamento.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

REAPRENDER A SER

De volta às tarefas mais exigentes, depois de alguns dias de letargia consentida. Tirando o peso ganho na imensidão de festas que se desejaram, à farta, sempre boas, aí nos vemos aumentando uma garantia duvidosa de um futuro a fazer, muito, mas muito lentamente. Difíceis de governar numa aurora de civilização, por estarmos a nascer para variadas expressões dela, aceitamos de ar leviano a aprendizagem que nos incutem, ora por imposição de um programa mais ou menos nacional, ora por injunção de uns exames por conhecer, feitos espécie de fantasmas assustadores de finais que se auguram mais pacíficos. Mais que dominar os conhecimentos através dos exercícios inscritos nas páginas de um qualquer tomo ou perceber as relações entre palavras; entre significantes e significados; e entre conteúdo e substância, que uma gramática explica com sentido útil, o importante é compreender os efeitos que tais conhecimentos produzem em nós. Deixam-se estes exemplos, representativos das áreas das Ciências Exactas e das Ciências Humanas, para melhor expor algumas diferenças acerca do que estudam os portugueses nas escolas. Um país é tão ou mais evoluído quanto mais próxima for a relação que consegue estabelecer com as instituições escolares, donde se depreende ser junto das estruturas educativas que se desenha o rumo de uma nação que se pretende para sempre soberana, contra ameaças externas que façam perigar as nossas crenças no futuro.

domingo, 3 de janeiro de 2010

DE VOLTA ÀS ROTINAS

É domingo nos calendários e nos ritos de tradição convicta. É um dia diferente do anterior, a chamar a um descanso merecido e inspirador para quem assim o entender. É tempo de dar tempo a nós mesmos, despertando para os silêncios hospitaleiros que povoam as nossas casas como é habitual, uma vez dispensados das azáfamas comprometidas com o lado mais material da vida. Isso fica para os outros dias, que neste temos de agir com calma e ponderação, para melhor condizer com as melhorias de aparência. Procuramos alinhar em dia as conversas suspensas antes e olhamos para o presente de uma maneira mais encorajada, porquanto termos esperado seis dias para nos libertarmos de umas obrigações vistas como dominadoras da nossa gentia tendência para recusar o cumprimento de um horário ou uma palavra de ordem de um superior. Para o comum dos cidadãos, ao domingo não há chefias a respeitar, nem ordens a prestar a subordinados, a não ser para prestar umas contas aos vícios que muito persistem em manter, seja de âmbito desportivo, musical e afim. Queremos deixar de pensar na vida dos outros, para pensar mais na nossa, o que nem sempre efectivamente sucede, dado sermos pertença do quadro de relações familiares e estarmos integrados num núcleo que reclama a nossa presença única para marcar o momento de estarmos presentes a viver o maior presente que é o de criar memória comungável.

sábado, 2 de janeiro de 2010

RENOVAR ENSEJOS


Com a entrada de um novo ano tecem-se incitações à concretização de tarefas há muito agendadas, mas que foram sendo suspensas por causa de uma meteorologia pouco amistosa. Só mesmo o calor de quem mais gostamos, para desanuviar os céus do cinzentismo dos últimos meses. Só mesmo a construção e a criação, perseguida nas margens da tendência mais técnica ou na veia artística, como forma de libertar o cansaço provocado por trabalhos pouco inspiradores, porque ainda menos inspirados. Como maior ambição para este ano, diremos que não mais esperamos que sair de rotinas ritmadas pelos calendários de quem tem autoridade para decidir pelo cumprimento de metas, não raro não mais que numéricas, a elas atidos como cão de passeio. Nem vale a pena escusar tais intenções, que o que preocupa muitas direcções são apenas cifras, longe de propósitos efectivamente pedagógicos e conducentes ao crescimento humanizador da comunidade. Andaremos impacientes com percentagens, a olhar em redor como conquistá-las, entre mais umas quantas reuniões, a minudenciar umas palavras assumidas ou umas vírgulas perdidas numa qualquer acta para arquivo. Estaremos ou não dispostos a suscitar a agitação profícua do grupo a que pertencemos, contribuindo para cumprir outras metas que não as estatísticas, porquanto mais sérias e edificantes. Onde buscar o prémio a atribuir a quem se propõe trabalhar por razões duradouras, senão na palavra sincera de um reconhecimento protector do tempo dedicado a uma causa julgada prioritária? Queremos ver as maneiras com que lidamos com o sucesso dos outros, porque aí estão as sementes de renovação.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

RECOMEÇAR

Adiantar o pé direito, pela superstição, aos primeiros segundos de mais uma etapa, ou ignorar um outro qualquer gesto de indício auspicioso, apenas, é a primeira escolha a proceder no novo ano. Gesto repetido, que lembra, afinal, entradas em anos que deixaram de ser novos há muito, para acumulação de lembranças sobre lembranças. Manifestar previsões e atestar contratos pode fazer de nós pessoas de decisão, capazes de abraçar uma proposta mais audaciosa, depois postas à prova nos meses que hão-de vir. Falhar a festa é que não parece acertado, conquanto afastados do espírito alegre e fraterno que une milhões em todo o mundo. Entre muitas opções possíveis, decide-se o brinde entre amizades e companhias esperadas, e define-se o sinal que possa marcar positivamente o início de mais um desafio longo, que não se deseja penoso. A crer nestas circunstâncias, efémeras por força da vivência que se projecta em avanço, ficamos de imediato marcados por intenções capazes de assegurar melhores e estendidos momentos a ter num ano inteiro. Pudéssemos prolongar os bons momentos, para sempre, em jeito de humanidade omnipotente, e estaríamos em festa contínua a revelar o invulgar sentido de olhar as coisas. Querer o que há de melhor é desejar o óptimo por um ano completo, de nós para os outros, em garantia harmoniosa de benignidade, evitando deixar para um ano que há-de vir mesmo novo para saldar aquelas contas que os propósitos envelhecidos pela impossibilidade de os concretizar foi pondo de parte. Tudo a contento de ambas as partes: nós e os outros.