sábado, 2 de janeiro de 2010

RENOVAR ENSEJOS


Com a entrada de um novo ano tecem-se incitações à concretização de tarefas há muito agendadas, mas que foram sendo suspensas por causa de uma meteorologia pouco amistosa. Só mesmo o calor de quem mais gostamos, para desanuviar os céus do cinzentismo dos últimos meses. Só mesmo a construção e a criação, perseguida nas margens da tendência mais técnica ou na veia artística, como forma de libertar o cansaço provocado por trabalhos pouco inspiradores, porque ainda menos inspirados. Como maior ambição para este ano, diremos que não mais esperamos que sair de rotinas ritmadas pelos calendários de quem tem autoridade para decidir pelo cumprimento de metas, não raro não mais que numéricas, a elas atidos como cão de passeio. Nem vale a pena escusar tais intenções, que o que preocupa muitas direcções são apenas cifras, longe de propósitos efectivamente pedagógicos e conducentes ao crescimento humanizador da comunidade. Andaremos impacientes com percentagens, a olhar em redor como conquistá-las, entre mais umas quantas reuniões, a minudenciar umas palavras assumidas ou umas vírgulas perdidas numa qualquer acta para arquivo. Estaremos ou não dispostos a suscitar a agitação profícua do grupo a que pertencemos, contribuindo para cumprir outras metas que não as estatísticas, porquanto mais sérias e edificantes. Onde buscar o prémio a atribuir a quem se propõe trabalhar por razões duradouras, senão na palavra sincera de um reconhecimento protector do tempo dedicado a uma causa julgada prioritária? Queremos ver as maneiras com que lidamos com o sucesso dos outros, porque aí estão as sementes de renovação.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

RECOMEÇAR

Adiantar o pé direito, pela superstição, aos primeiros segundos de mais uma etapa, ou ignorar um outro qualquer gesto de indício auspicioso, apenas, é a primeira escolha a proceder no novo ano. Gesto repetido, que lembra, afinal, entradas em anos que deixaram de ser novos há muito, para acumulação de lembranças sobre lembranças. Manifestar previsões e atestar contratos pode fazer de nós pessoas de decisão, capazes de abraçar uma proposta mais audaciosa, depois postas à prova nos meses que hão-de vir. Falhar a festa é que não parece acertado, conquanto afastados do espírito alegre e fraterno que une milhões em todo o mundo. Entre muitas opções possíveis, decide-se o brinde entre amizades e companhias esperadas, e define-se o sinal que possa marcar positivamente o início de mais um desafio longo, que não se deseja penoso. A crer nestas circunstâncias, efémeras por força da vivência que se projecta em avanço, ficamos de imediato marcados por intenções capazes de assegurar melhores e estendidos momentos a ter num ano inteiro. Pudéssemos prolongar os bons momentos, para sempre, em jeito de humanidade omnipotente, e estaríamos em festa contínua a revelar o invulgar sentido de olhar as coisas. Querer o que há de melhor é desejar o óptimo por um ano completo, de nós para os outros, em garantia harmoniosa de benignidade, evitando deixar para um ano que há-de vir mesmo novo para saldar aquelas contas que os propósitos envelhecidos pela impossibilidade de os concretizar foi pondo de parte. Tudo a contento de ambas as partes: nós e os outros.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

SEM CAPÍTULO ZERO


Ciclo sobre ciclo. É a nossa vida a refazer-se nos dias de mais promessas que garantias; mais juras que conquistas, a arrastar uma confiança meia desaparecida nas névoas dos desentendimentos gerais. Tudo é global, até a descrença num futuro melhor, que não deixa margem satisfatória a cada indivíduo para revelar o desconcerto da era que vivemos. São os medos de virmos a reprovar na aceitação dos outros, em pessoa ou em instituição colectiva, que nos tolhem a liberdade de anunciar o necessário equilíbrio a todos. É, pois, um risco sério, manifestar o desagrado do falhanço do sistema político que incorporou regimes de expressão sôfrega da economia, agora náufraga de interesses tão passageiros quanto ocos os caminhos traçados pelos responsáveis de tal situação. Que espaço, portanto, cabe ao cidadão, senão ter de aceitar uma ordem feita de solavancos incómodos? Entrámos na história das realidades familiares sem direito a qualquer experiência, tendo nascido logo em um dia de um qualquer mês, num qualquer ano-etapa da história mundial, abandonada a experiências mais ou menos consequentes. A nossa narrativa faz-se no imediato e sem direito a prólogo, porque ninguém parece ter tempo para endireitar as veredas que os nossos olhares vislumbram. Somos logo vida, em choro convulso, parte de uma outra vida mais solícita, anos mais tarde, transformada numa avidez obstinada com a posse do material e abraçada em egoísmos hipócritas, condicionados por sistemas de difusão da informação conveniente que vão lentamente afastando das vidas exemplares de pessoas ainda presentes em nosso meio. É preciso olhar em frente, com um renovado estudo sobre os dias que nos trazem vivo o apetite de estar vivo.