sábado, 24 de janeiro de 2009

SINAIS DE CORAGEM

Simples gestos e atitudes reflectidas podem resultar em benefício individual e colectivo, se, em vez das frequentes hesitações condicionantes do necessário rigor e audácia, também formos capazes de agir com sinais de afoiteza e empenho. Documentos sucedem a documentos. Não serão mais que papelada amontoada - passe a rima - se não tivermos aquele atrevimento útil e oportuno. A ocasião não sossega os espíritos mais envolvidos, e só mesmo os amorfos, os vagos e coniventes com um sistema de contratos ambíguos podem esperar melhores proveitos. Pessoais, bem se vê. Apresentam razões dos outros como se fossem suas, avançando com repetidas propostas vindas de quadrantes mais empreendedores, dirigidas a projectos muito mais aliciantes. Fazem eco, nada mais que isso, do que se conta em surdina, desmanchando um colectivismo profícuo e uma lealdade outrora estável. Precisavam, estamos em crer, de algumas lições de dinâmica de grupo - extintas? - para aceitar a bem qualquer proposição ou argumento, mesmo nascido do lado de lá. Não que tenham que cumprir totalmente os termos em que esta ou aquela intenção esteja definida, mas tão somente compreender melhor os raciocínios que conduziram os pares a pensar num determinado sentido. E não é que pode estar aí uma causa explicativa desta fase de descrença em que caímos?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

PROMESSAS DUVIDOSAS

Uma das formas de proceder à entrega de promessas duvidosas é assumir uma qualquer crendice como alicerce das virtualidades substanciais registas no preciso documento. Expondo a tese da colaboração tácita com um sistema entrado na fase não do resumo mas da conclusão, a reclamar um óbito há muito esperado, sempre se vai dizendo que antes participar, ainda que contrariado, que abdicar. Muito concretamente, e no que ao cumprimento de obrigações diz respeito, o sentido de participação desceu ao grau zero, apesar de não parecer. Por outras palavras: nós até vamos participando, sem colaborar; vamos respeitando esta ou aquela ordem de serviço, mas sem questionar os fundamentos subjacentes. Seja assim uma atitude de afirmação pela coacção, que é um dos mais graves defeitos a que estamos sujeitos. Não é que tenhamos de ser coagidos para concretizar as tarefas a nós incumbidas, mas percebemos, nos apelos de obrigação legislatória, que ninguém é mais pago para pensar, senão para agir. E sem ponderar as virtudes e desvantagens de um decreto, de uma circular ou lei. Pesam a nossa presença no meio profissional em função de documentos escritos - inspirados em colagens que já circularam em vários meridianos - e avaliam a integração no grupo pela aceitação passiva de alterações desatascadas e nadas em reuniões de decisões calculadas numa forja fria. Afinal, como quem gere tentativas de desqualificação dos subordinados.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

PREPARAR A FESTA

Anunciar a alegria dos outros devia estar acima do reclame da nossa. Acima do resto, quando a festa se destina às crianças e a perpetuar bons momentos passados nos seus tempos escolares. A época é de apreensão e exige dos pais muito controlo nos orçamentos familiares, donde os cuidados a ter quando decidem a participar na alegria comum. Não esquecendo, também, a necessária coordenação das tarefas de intervenção, construção e participação, aos pais cabe importante função no encorajamento dos restantes e a sensibilização dos filhos para criar hábitos de associação regulados pelos interesses do grupo a que pertençam. A ser alimentado desde as mais tenras idades, cada criança deve ser educada no sentido de reconhecer sempre o espírito do grupo em que está inserida. É o sentimento de pertença que faz com que passe a sentir-se mais integrada nas actividades escolares e afins, porquanto perceber quão útil é o seu tempo que dá aos outros. E mesmo que diga sentir-se melhor em casa, o que seria sempre preferível, a ter hesitações nesta opção, também deve compreender que a escola também deve ser um local onde saiba bem estar. Seja pelos proveitos de longo prazo dos momentos de trabalho mais sério, seja pelas vantagens dos tempos de divertimento, é nesse jogo que a criança tem de entrar, percebendo adequadamente as regras definidas para que o mesmo possa persistir sem interrupções e desgastes.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

ASSINAR A PALAVRA

As palavras ditas têm muita importância num contexto de franqueza e abertura de espírito. Valem o que valem, dirão alguns. Valem muito, devíamos todos considerar, assumindo a justeza das nossas afirmações e a clareza dos argumentos aduzidos. Resta lembrar a estima há muito dada ao que se dizia entre quem tinha connosco uma grande relação de proximidade. Num mundo cada vez mais globalizado, são de registar afastamentos progressivos entre as pessoas, ora por convencimento fútil nas tecnologias, ora pela forma agressiva como encaram a realidade e as obrigações, mormente as relativas à actividade profissional. E deixamos uma conversa, das de olhos nos olhos, para depois, porque podemos fazer aquela chamada que até nem custa muito. E, mesmo que esqueçamos a necessidade de repouso dos outros, preferimos perturbar uma viagem, uma refeição ou um silêncio, porque assim decidimos e porque não houve outra oportunidade. Lamentos ocos, sensaborãos. A nossa voz tem realismo e pulsação, e olha o som que vem de fora para encontrar a resposta no tom certo. A palavra pronunciada nunca dever ser ignorada, mas de pouco vale enquanto não passar à forma escrita e ratificada. No tempo em que falar servia como melhor testemunho capaz de regular o entendimento entre pessoas que se relacionavam sob princípios de mútua boa-fé. Pois: sacrificámos quase tudo por ela.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

ACREDITAR NA MUDANÇA

Comprometer uma comunidade restrita em desafios sociais já é, de si, uma obra de monta, sobretudo no momento em que verificamos a utilidade e a importância dos projectos em curso. Agora, quando essa comunidade está propagada pelo mundo inteiro, apostar na transformação global é uma faina de grande pulso, só para verdadeiros líderes e homens de coragem ímpar. Proclamar uma vitória pessoal nem é algo que se estranhe, tratando-se de uma figura de nomeada, mas definir metas de alcance quase universal e levar na sua moral de vitória milhões pelo mundo fora, é, logo à partida, um aporte inefável de segurança e, mais que tudo, de esperança. É isso que o mundo procura, há muito tempo e em lugares perdidos nas poeiras desfeitas do imemorial. A troco de queremos pacificar as horas perturbantes que passamos dia-a-dia, todos precisamos acreditar numa mudança que seja realmente potenciadora de sempre inovadores aperfeiçoamentos, e geradora de bem-estar e equilíbrio. A história lá nos reserva sinais que nos ensinam a estar em permanente atenção com o mundo, como é o caso da cerimónia que marcou este dia. Não mais que uma data para lembrar nos anais da política, num compromisso com uma geração que reclama novos movimentos em favor de justas e imperiosas correcções. Cinco dias depois de se completarem oitenta anos do nascimento de um dos mais célebres activistas dos direitos humanos, que sirva a lembrança para nunca, mas mesmo nunca, deixar cair no esquecimento dos homens do futuro a importância de saber resistir sempre. Os que nasceram para consubstanciar os desígnios de milhares ou milhões, são os que mais radicalmente souberam defender os valores da vida; os que mais intemporalmente defenderam os valores eternos e que vivem para sempre, como eles.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

CONTRA QUEM NÃO CONTA


Bem gostaríamos de estar longe dos agourentos olhares enrouquecidos por gritarias esganiçadas, que a estoicamente permanecer coarctado pelos vícios por elas incutidos. Já de tradições feitas no espaço que gerem, lá surgem em arrogâncias mesquinhas e encobertas de comportamentos ricos de autoritarites rançosas e bafientas. Como certos assentos, afinal, que não vêem descanso, por não verem forma como sacudir o peso de horas e horas de trabalho, ou de conversas comprometidas por silêncios abusivos. Não podem, desta forma, as boas relações profissionais prosseguir em sentido positivo, porquanto contributos para abalar comportamentos que se pretendem exemplares. E tudo começa pela total ausência de empatia, revelada numa presença mais ameaçadora que delicada. Entre adultos, tudo o que roçar a infantilidade deve ser banido, pela reflexão e ponderado diálogo. Quando em falta, praticamente ninguém directamente envolvido sai ileso. Numa visão racional, nem são tanto as pessoas que perdem, afastadas de uma ou outra maneira, mas sim as instituições, arrastando consigo a gestão das actividades correntes. O próprio governo dos restantes elementos sujeitos às ordens do director ou presidente sofrem. Sofrem pela perda do sentido democrático inerente às organizações; sofrem pela falta de coerência entre a palavra regulamentada e a executada; sofrem pela insegurança daí derivada. Um líder que se pretende de excelência, não pode reagir emocionalmente, mas agir em serenidade e bonança, como valores de favorecimento de conjunto.

domingo, 18 de janeiro de 2009

DA FRAQUEZA OCULTA

As notícias vão-nos trazendo tristezas à saciedade. Os programas de entretenimento, quando o são na essência, deslocam-nos dessa realidade em que parece ainda não termos entrado. Ficamos perplexos com a rapidez com que os acontecimentos sucedem, e emudecemos porque não conseguimos dar respostas que satisfaçam as maiores dúvidas. Quanto à comunicação social, já nos afadigam as lamúrias de praticamente todos os sectores sociais e económicos, e as famílias vivem cenários ainda há bem pouco tempo inimaginados. Agora que a surpresa incómoda e muito desagradável de instalou, não se sabe bem por quanto tempo, reflectimos seriamente nas soluções a dar a um problema profundo. Fecham-se as portas da vida de pessoas que vemos de ambições já perdidas, uma vez sumidas as esperanças em ter um futuro melhor. E tanta vida construída em tanto sacrifício entregue a horas vivas de crença... Por documentos que substituam a realidade triste por uma fantasia que adia a solução, sem a resolver, damos a nossa palavra em troca de um punhado de arroz ou um litro de azeite, conforme relatava a reportagem da revista. E os filhos? Que crenças lhes ensinar, quando as que tínhamos se esfumaram na volúpia de uma estrutura financeira desarticulada dos tempos? Porque não é momento de refazer fantasias, empenhemos o melhor da nossa vida na plena reformulação da sintaxe dos valores relacionais, em ordem a porfiar um equilíbrio perdido.