sábado, 17 de janeiro de 2009

CONGREGAR A IDEOLOGIA

Em alturas de concerto de orientações para alinhar rumos num mesmo sentido, ganham especial importância dos momentos de reflexão em grupo. Esclarecimentos que sucedem a elucidações, umas mais clara que outras, para toma de de decisões em tempos que urgem e reclamam continuadamente a intervenção activa de todos. A necessária pausa não pode nem deve servir para a julgarmos inoportuna, e muito menos para nos afastarmos das motivações nascentes deste ou daquele movimento. É demasiado importante auscultar as propostas dos pares ou dos co-associados, quando se trata de implementar determinado projecto ou, de forma mais simplificada, tomar uma decisão de curto prazo. Mesmo nesses casos, recusar a mediação dos outros é correr um risco desnecessário, porque perigoso. Um líder deve estar sempre alerta para solicitar a pronta participação dos restantes membros de uma organização, evitando reuniões sobre reuniões, sob pena de tal estratégia de trabalho poder vir a tornar-se saturante e vazia de sentido, por ser repetitiva. Quem coordena os destinos de uma agremiação, seja de ordem cultural, pedagógica ou até política, também carece de imaginação para manter em firmeza de razões os seus pares. Não daquela firmeza impertinente e destemperada, que uma certa geração de políticos nos faz desacreditar, mas moldada por valores de equilíbrio e sensatez. Por serem mais raras, têm muito mais valor.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

REUNIR PARA CONCERTAR

A necessidade de reunião deve ser mesmo uma das mais antigas, ou não fôssemos animais de hábitos. Uns mais repassados que outros, a nós nos cabe ir perpetuando costumes e alongando a teia de formalidades a que nos vemos presos. Depois da necessidade de comunicar, a de reunir deve mesmo ter nascido imediatamente após. Para definir estratégias de sobrevivência, supomos, conquanto decisivas para manter inviolável o espírito do clã ou tribo. Nos dias que vão correndo, entre reuniões a mais - e nunca a menos - fazem-se promessas e lançam-se garantias de (r)estabelecimento de uma ordem perdida nos meandros de outras reuniões anteriores, e que fazem de nós profissionais do ler, do agendar, do sentar e do discutir os assuntos que, se estivéssemos mais aptos a apurar a nossa autonomia, dispensavam tanta agenda repleta de horas de reuniões. Precisamos delas, naturalmente, quando a utilidade ultrapassa o incómodo. Mas o que se passa não é bem assim. Não raro verificamos existir mais o contrário, com vozearias sobre outras vozes de pessoas que se querem fazer ouvir. E tudo pela importância que julgamos que nos dão: gostamos de estar no centro das atenções, porque os olhares dos outros, se não reprovam, entendem o que dizemos. E as decisões, que se ponderam em minutos breves, quando o cansaço tomou já conta dos intervenientes? Estarão à altura dos motivos da reunião? Dúvidas, sim, para aferir o nosso grau de intervenção nas mesmas, progressivamente relativizado por uma certa atitude de liderança impertinente, coerciva e autoritária, no pior sentido do termo. Muito mais longe estamos de nos sentirmos cativados a participar com gosto.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

SILÊNCIOS COMPROMETIDOS

Uma pausa no ritmo afanoso do quotidiano, para ouvirmos os silêncios que brotam de dentro, por ser raro, tem mais valor. Um ouro que as pessoas insistem continuadamente em desperdiçar, julgando recolher dessa perda um outro bem mais imediato. Sem saber exactamente qual, persistem em despertar nos outros as palavras que gastam sem sentido, quando poderiam recolher-se, a bem, no seu mundo de emudecimentos. Sempre preferível, a ter que ser representado pelos outros em sentenças comprometidas. Eles, os que se apressam a fugir às explicações de lisura e polimento, preferem a mudez cheia de desconfiança, e mantêm-se bem fechados num espaço criado por conveniência. Enclausurados nessa espécie de meditação há muito prevista, não fosse por um espírito de ganancioso proveito próprio, reagem a medo quando solicitados a pronunciar-se sobre este ou aquele tema. Calam-se, porque reflectir é incómodo. E dão a entender que o ser humano não tem nem pode ter opinião. Aí, na ocasião em que tal sucede, já morreram para as ideias; para os valores; para os outros. Isto porque julgam que, naquele espaço meio vazio que é a fantasia egoísta do seu cérebro, está garantida a substituibilidade. Acham-se únicos, portanto. Já são mais matéria que sentido. No plano material é que devemos aprioristicamente falar em substituição, tão de contrário ao humano, pois que ninguém é a repetição de uma entidade que existe no outro, nem se deve arrogar verdadeiro representante das capacidades críticas vizinhas.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

COOPERAR NÃO É PERDER

Incomodam-nos as pessoas que resolvem cruzar decisões disfarçadas e tomar atitudes sem respeito para com os pares. Perdido o sentido da colegialidade, trocam documentos à socapa e telefonam amiúde para trabalhar uma imagem de agrado e consensualidade. Para os mais distraídos, são estas as pessoas mais empenhadas e colaborativas, enquanto quem se entrega às tarefas diárias, dentro de uma razão comedida e perfilado em parâmetros de serenidade, parece ficar ultrapassado. São inúmeras as pessoas que funcionam assim, comandadas por um saber-estar feito de estranhezas e princípios esquivos de relacionamento. Que mudaram de ideias; que agora vêem o problema de forma diferente; que foram aconselhadas a rumar noutra direcção; que..., tudo desculpas de mau agir. Tantas vezes instados a cooperar de forma edificante, surpreende a maneira como encaram a própria relação profissional, recorrendo a estratégias pouco dignas. São estas pessoas que se servem de expedientes para conduzir os seus próprios interesses num sentido de proveito restrito, falando muito em privado com as fontes de decisão bem colocadas. Trabalhar em conjunto requer nova aprendizagem, porquanto perdidos valores tidos como universais: lealdade; tolerância; companheirismo; entreajuda; o bom clima de trabalho; o espaço partilhado; a empatia. Tudo parece ter desaparecido. Primeiro, nessas pessoas; depois, nas que decidiram sempre dar muito mais de si, mas que persistem em ser arrastadas pela ânsia dos que querem chegar primeiro a uma zona onde, afortunadamente, as horas são iguais em todos.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

REFLECTIR PARA AGIR

Semanas após semanas, em ocupações que sucedem a trabalhos de maior ou menor monta, pouco tempo sobra para dar tempo ao tempo. Seja: não damos mais da nossa disponibilidade para pensar em nós mesmos, como elementos cruciais no tecido da cidadania, porque não nos empenhamos em considerar a montagem de raciocínios, como método capaz de materializar projectos realizáveis. Reformulamos planificações, a contento de um descuido, de um desleixo ou de uma falta de prática, dada a escassez de tempo para também investirmos mais na aprendizagem. Somos mais capazes de nos aproximarmos de um monitor de cores muito apelativas, mas de conteúdos secos, e trocamos mais rapidamente umas horas de um sono verdadeiro e retemperador por um programa televisivo de conversa oca e improcedente, mas bem paga para quem ocupa as horas dos outros em futilidades. E porque queremos fugir delas, empenhemo-nos em alicerçar o espírito com orientações irrepreensíveis e de maior agilidade, conquanto fundamentais para a condução da ordem social futura. Se, ainda hoje, a base do pensamento social que nos rege acompanha é de tempos imemoriais, porque não apostar em formar, também agora, um pensamento novo progressivamente centrado nas capacidades do ser humano e crente nas potencialidades naturais de cada um, sempre numa base de sincera e aberta confiança nas gerações vindouras?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

RECTIFICAR A MUDANÇA

Depois de uns dias de reflexão sobre as grandes variações estratégicas em matéria de educação geral; depois de uns quantos debates sobre as transfigurações legislativas, em que praticamente ninguém reconhece virtudes; depois de passagens e passagens sobre inúmeras leituras; depois de tanta baralhação improdutiva, uma inflexão no rumo antes tomado. Porque só não muda quem não acha que deve mudar, assim como o carril, é chegado o momento de trocar uma linha por outra, mais promissora e capaz de por mais à prova pessoas com competências para revelar as verdadeiras qualidades relacionais. Mesmo sobre uma vastidão de papéis, acumulados pelos saberes de gabinete que fecham portas ao calor humano para que o artificial não se suma, quem for capaz de, honestamente, ajustar os pratos da balança de forma leal e séria, apareça. O tempo não é de tréguas. Ora, se quem entende mais das coisas que outros não conseguem, procure agora demonstrar os dotes de líder e de responsável por trabalhos coordenativos. Chega das hipocrisias de não mostrar o que se não é e de chamuscar numa fogueira de comportamentos vergonhosos colegas que agem sem segundas intenções. Que mude, em primeiro lugar, quem mais quer que a mudança se faça, para que depois possa reclamar o mesmo nos subordinados, mais cumpridores e submissos.

domingo, 11 de janeiro de 2009

PENSAR NUM PAÍS

Investir parte dos nossos tempos de domingo no convívio dos outros, ou no aconchego familiar, não pode ser à toa. Uma leitura enriquecedora promove a blindagem do espírito e prepara-o para a semana que se avizinha. Darmo-nos às reflexões das notícias apresentadas também pode ser um exercício de melhoria das nossas capacidades cognitivas. Pena é que seja triste pensar num país, já pouco dado à revelação de ideias realmente inovadoras e originais. Pior, mas muito pior, é pensar num país que pensa que pensa, a avaliar pelas figuras que nos surgem diariamente em sorrisos de bem-parecer, mas de muito pobre-ser. Sim, empobrecemos cada vez mais, se nos deixarmos levar pela monotonia do uso de instrumentos que quase substituem as nossas funções vitais. Se a maior riqueza que temos resulta na estruturação do conhecimento, que progride ao longo de toda a vida, contrariamente às capacidades físicas, porque não arremeter ainda mais na consolidação do volume de saberes? Não estamos experimentados para aceitar o desafio de pensar, ou porque desgastar o cérebro é coisa de antigamente, ou porque os modelos que os sistemas actuais de ensino incutem menos autonomia e mais tecnologia. Tudo muito ao contrário, quando, assumamos, devíamos apostar bem mais no desenvolvimento das capacidades individuais, com a memória e o raciocínio abstracto. Se fazemos é porque somos obrigados, e se pensamos é porque nem temos mais que fazer, dirão. Um vício, dirão ainda, de quem só quer matar a cabeça com trabalhos desnecessários ao bom desempenho, como se ele dependesse sobretudo do que é alheio ao homem…