sábado, 10 de janeiro de 2009

PLANTAR A ESPERANÇA


O significado de alguns gestos deve encher-nos de orgulho próprio, não obstante, de tão naturais e repetidos, soem a trivialidades inconsequentes. Plantar uma árvore é definir algumas garantias de futuro, porquanto querermos como certa uma promessa de enraizamento em boa hora, na ocasião de ser assestada à terra. Olhar a raiz que se esconde no calor húmido da fertilidade dos segredos, faz-nos sentir mais capazes e mais crentes na criação de terrenos de prosperidade, passe a metáfora. Acreditar que, dos pâmpanos moles da estação, pode dilatar-se uma flor, e da flor um fruto, é agigantar em nós a revelação das garantias de crescimento de que necessitamos. Uma árvore ensina, portanto, a respeitar a nossa condição humana, nos cuidados de plantação, de rega e poda. É que, vendo-a crescer em viço, revemo-nos na força que se dispõe na dádiva plena de seiva aos outros. Não da seiva branca, leitosa e alabastrina, mas de um sangue de entrega e de transmissão de saberes. Quem deita uma planta à terra, porque quer fazer deste acto uma história superior à sua, sopra na raiz o lado mais eterno da sua alma, para que não morra, não seque, não murche.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

ADIAR COMPROMISSOS

Uma forma de adiar compromissos sem causar transtornos é programar bem todas as actividades em que a pessoa se vê envolvida. Mas com alguma folga, de maneira a deixar margem de falibilidade na agenda pessoal e colectiva. O melhor é mesmo não protelar a marcação de um afazer, sob pena de não se poderem encontrar novas ordens de contacto futuro. Outrossim, o mais grave é estarmos sujeitos aos compromissos marcados pelos outros, de forma unilateral, como se não tivéssemos outras tarefas a realizar. Um hábito cada vez mais em voga, impor a presença de um profissional num local divergente ao que habitualmente frequenta, para tratar de assuntos de que nem sempre se conhece o teor. Custará muito pouco trocar umas impressões acerca do assunto a abordar numa reunião, quando ambas as partes se mostram abertas à melhor resolução de uma questão que preocupa não um representante de uma colectividade, mas um conjunto muito mais vasto de pessoas com interesses comuns. Lutar pelo sucesso colectivo é de suma responsabilidade e requer o necessário tacto para conglomerar os intervenientes em plataformas sérias de entendimento mútuo, mesmo que as perspectivas de interpretação possam diferir.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

DIRECTO À FALA

Mais que saber falar, próprio do nível cultural de uma pessoa, parece ser mais importante saber quando falar. E em que circunstâncias fazê-lo. Não raro de juízos deturpados, pelo arrastar de impressões levianas acerca desta ou daquela pessoa, somos levados a crer que muita saliva antes gasta poderia ter sido poupada se o diálogo tivesse efectivamente existido. Nada melhor que promover a conversação entre as pessoas mais directamente implicadas na resolução de um qualquer assunto, pois só assim ambos tomam consciências da dimensão do problema gerado. Caso esta iniciativa não exista, preferindo tê-la por interpostos agentes, rompe-se a lisura de atitudes e perde-se clareza na exposição e dificulta-se o processo resolutivo. É que um dos interlocutores pode concluir, com alguma margem de razão, que caberá ao outro a solução do caso. Quando unilateral, só mesmo a mediação para dar cobro aos ruídos existentes. O pior é quando a mediação foi logo à partida julgada como a melhor forma de dar desfecho a determinada dificuldade. Alimenta-se uma perda improdutiva de tempo e esvai-se a disponibilidade emotiva e racional no encontro de uma solução o mais equilibrada possível. Para evitar insistir nestes procedimentos, o mais acertado e prudente é abrir total disponibilidade para debater educadamente as origens da dúvida e encaminhar o processo no sentido de ir ao encontro do rumo mais adequado ao debelar do problema. Palavra por demais repetida, por haver pessoas a porfiar mais como parte do problema em vez de se afirmarem parte da solução.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

HORAS NOVAS

Uma nova etapa não tem necessariamente que estar sujeita a qualquer mudança de fundo, como é o caso dos horários. Sabemos que se torna difícil gerir os diferentes tempos de trabalho e os interesses do capital humano de uma empresa, tão diversos que são. Pede-se, tão simplesmente, que as pessoas sejam ouvidas, sempre que uma alteração profunda implique reformulação das rotinas. Temos inculcados os espaços de funcionamento das actividades e as horas de comparência noutras iniciativas que se estendem para lá da realidade diária de trabalho. O que se estranha é o facto de se fazerem transformações nas agendas pessoais a contento de preocupações imediatas e de vistas curtas, porquanto derivarem de impressões dadas fortuitamente numa daquelas reflexões muito inspiradas de vão de escada. Das que quase todos os dias irrompem de umas inteligências manobradas por influências paralelas que, subrepticiamente, continuam a controlar as decisões das pessoas que apõem rúbrica nos documentos que aparecem de corrença. Sujeitos a desmandos momentâneos de noção intuída, como encarneirados por um dever animalizado de obediência pastoril, todos nos prostramos perante painéis de recados aprazados e que limitam os tempos mais necessários à formação dos outros. Felizmente, nem todos procedem da mesma forma, ainda que alinhados a toque de erguer ou largar, porque conhecem mais o pastor que o cajado que ostenta.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

MANIFESTAR O SER

Testemunhar a nossa forma de ser e estar é um dos desafios mais exigentes nos tempos em que vivemos. Ouvimos comentários a propósito desta ou daquela pessoa, cujo comportamento logo nos apressamos a censurar, e ajuizamos praticamente tudo o que lemos e vemos. Somos algo disfarçados, pois nem sempre assumimos as palavras ditas como efectivamente nossas, muito menos os reparos meio clandestinos acerca da postura e jeito dos pares. Receamos abrir completamente o átrio da nossa personalidade, porque nos escondemos por trás da ideia de que quando tal acontece tudo resulta em prejuízo nosso. Não queremos interferências nem aceitamos mediações, conquanto lesivas do nosso mundo. Esquecemos, portanto, que se o abríssemos mais aos outros, tínhamos mais razões para tal exigir deles. Dos mesmos que se acomodam nos silêncios suspeitos e comprometidos, incapazes de dar uma opinião em público, sempre receando as reacções estranhas. De tal modo previsíveis, são pessoas nunca trabalhadas para aproximar, para cativar, para saber receber, senão para semear à sua volta um joio que extenua e aprofunda o alongamento das distâncias. Será pela existência de um super-ego muito forte, insistem em afirmar certos livros, que impede a revelação dos sentimentos e opiniões. Podem os livros ter mais razão que as próprias pessoas que os lêem e interpretam a seu critério? De certa maneira, deixar que se esconda parte de nós aos outros é admitir que há um lado escuro, muito pardacento, que se dissimula num riso falso e deixa perceber comportamentos adulterados em espaços perdidos da consciência, quando existe.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

reENTRAR NO RITMO

Após algum tempo de paragem, custa um pouco retomar os trabalhos antes iniciados. Faltará, até, a cadência do sono a que estávamos habituados e o ritmo de execução das por demais repetidas azáfamas. Temos de reentrar gradualmente nos programas de realização das funções ocupadas, principalmente para não causar choques inusitados aos nossos dependentes. Admitir ideias como esta nem será penoso, mormente para quem acredita em valores como a tolerância e a entreajuda faseada no tempo. Mas custa reconhecer em certas pessoas a vertigem com que se assumem administradores das vontades do grupo a que pertencem, pelo facto de apenas viverem para as tarefas de chefia a que os incumbiram. Como dominadores que são, não ajustam as suas exigências ao pessoal que lhes está adstrito, e nem sequer param para reflectir nos processos de optimização do trabalho, por exemplo. Porque o que há a fazer não se compadece com perda de tempo, ou com mesquinhas e inoportunas reflexões, pensam... Acham que reiniciar qualquer trabalho é simples e não necessita de nova adaptação aos contextos entretanto formados. Têm vidas de exclusividade entregues à causa do trabalho, assim mesmo, e entendem que todos se devem comportar como se assim vivessem: sem outras aptidões nem obrigações de ordem afectiva ou social. Pessoas de sentidos lentos, que só olham em frente e avaliam porque sim as regras de relacionamento. Terão alguma estrela que brilhe?

domingo, 4 de janeiro de 2009

ESTRELAS DE ESCOLHA


Para lá da rapidez com que os dias se revezam - já os primeiros deram, num ápice brusco, lugar a outros - é a violência com que as notícias do trânsito das coisas do mundo nos chegam na placidez do nosso lar. O que vem estragar a nossa paz, de maneira vertiginosa, nem parece ser tanto a perturbação trazida pelas imagens penosas e sangrentas, dadas na crueza da falta de edição, mas antes o desfalecimento das estrelas que nos iluminam. Sendo guias na nossa vida, precisamos delas para manter luzente o rumo a seguir na direcção dos nossos anseios. Porque temos sonhos, somos seres de criação e avaliamos os factos observados - ninguém pode ser chamado à neutralidade - alimentamos projectos e sustentamos desígnios com que nos identificamos, lidos nas páginas ilustres de raciocínios convincentes ou na fé dos astros. Num ou noutro campo, a sabedoria aí está à nossa espera para nos afirmarmos nas promessas entretanto estabelecidas nesta fase introdutória do ano. Olhadas as estrelas, em busca das evidências há muito procuradas, ficam-nos os caminhos a seguir, como respostas sossegadoras das nossas ansiedades perturbadoras. Quantas e quais seguir, num mundo em que a apoquentação e o delírio tomaram, de há muito, conta dos nossos itinerários. Temos escolhas a fazer. As primeiras e mais importantes moram bem dentro de nós, chamem-lhe certezas ou fantasias.