sábado, 3 de janeiro de 2009

AJUSTAR COMPROMISSOS

Pensamos que é pelo diálogo que as apostas podem sem concertadas, e que, as feitas connosco mesmos, chegam ao sucesso na persistência e abnegação corrigidas. Encarar de forma decidida e imaginativa os desafios lançados para este ano é o feito mais distinto a que nos podemos lançar por inteiro. Ponhamos as mãos cheias nas matérias que dependem de nós directamente, mesmo que aparentem pústula e imundície. Se nos virem entregar a alma aos novos projectos, não nos julguem arrebatados pelas ilusões crescentes nas coisas que fazemos. Afinal de contas, elas precisam da nossa entrega firme e resoluta, porque está em jogo o sentido de realização; o empenho pessoal e cooperativo; o investimento material e humano; a competência concretizadora; o domínio de técnicas de realização ao serviço de iniciativas comuns. Sendo necessário refazer as linhas de acção, há que convocar todos os elementos para ajustar as agulhas no novo rumo a tomar. E porque o começo de um ano depende dos acertos reflectidos e ponderados, para evitar maiores e complicadas vicissitudes, há que estar sempre alerta para intuir o melhor momento em que seja mais útil parar para formalizar as devidas adaptações dos ritmos a que iremos ficar sujeitos. E sem depender muito dos ciclos lunares.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

DESPERTAR PARA O QUE É NOVO

Ainda mal o ano começou e já estamos de fim-de-semana. O primeiro do ano. Não haverá outros dias como estes. Nunca. Pode parecer tudo muito igual, mas nada se repete linearmente. Temos de estar sempre despertos para as coisas novas de todos os dias, ainda que as tarefas não nos deixem muitos tempos de sobra para isso. Precisamos de descobrir o que se nos surge de novo, como fonte de pedagogia constante. Ver o que é irrepetível é compreender que também nós o somos, porque únicos. O que nunca foi usado requer outra relação. Tanto os dias como os objectos, ou, em posição extrema, os sentimentos coisificados, reclamam a nossa sempre alerta atenção, conquanto aprendizes das realidades. Se a quisermos entender na plenitude, então o melhor é ter os sentidos em permanente vigilância, no esforço de captar as evidências que as circunstâncias quotidianas nos vão fornecendo. A educação da nossa sensibilidade apura-se por tentativas, limando aqui e ali o que estiver a mais na inteligibilidade do que é exterior a nós. A leitura pode muito bem favorecer essa evolução, se estivermos bem identificados com os temas escolhidos. Abrir um livro bem pode ser como abrir uma porta para o conhecimento de nós mesmos, depois alargado aos outros. Despertar para as novidades é fundamental como forma de estimular os juízos, considerações e pensamentos. E é por demais aliciante, para que possamos ignorar o que decorre à nossa volta. O ritmo dado ao início de cada projecto pode fazer depender o seu sucesso, e não estar avisado pode hipotecar a agenda de apostas que, em absoluto, fizemos. Mesmo em segredo.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

VIDA NOVA


O que mais se espera, ao entrarmos num ano novo, é que ele possa trazer vida nova. Por isso damos particular importância aos primeiros gestos e palavras dos primeiros minutos, porque eivados de significado inaudito. Temos tudo a avaliar aquando os começos: as pessoas; a festa; a meteorologia - convidativa ao recolhimento; o espumante ingerido; a viagem feita ou a fazer; o primeiro jogo feito - o resultado pode ser já o maior sinal do ano; as visitas, mais ou menos inesperadas - em jeito de nos abrirmos a surpresas; as prendas que não se abriram nos dias anteriores - mistérios entrados no ano novo para manter o assombro do que está para lá do papel de embrulho; ... Situações que servem de lição para mais um lote de 365 dias que se pretendem ricos em experiências. Ou serão mais uma fase do ensaio eterno que é a própria existência, até um dia estarmos prontos para a actuação final, perante uma assistência convidada para a nossa festa - a nossa última representação. Um ano de novas lutas e desafios autênticos, entre pessoas que os percebam pelo que efectivamente são, e não tanto pelo que podem vir a implicar nas suas restritas vidas. Quem as tem assim, limitadas e sem horizontes, porque mandam o que lhes mandam, pode até ver aquém dos que as leis fazem, mas revelam seu pensar curto na relação com os demais. Assim o ano pode ter entrado, mas não o novo, porque as pessoas permanecem numa imutabilidade repisada que entristece. Construamos ideias renovadas e digamo-las com palavras simples, em trocas abertas e livres de outras intenções que não as da concórdia e entreajuda. Bons começos a todos!

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

ADEUS A MAIS UM DIA


A despedida do ano de 2008 não é mais que a dispensa de um ano bissexto nas nossas vidas. Estaremos, daqui a quatro anos, a lançar ao céu mais um ano como este. E com as despedidas a serem inteiramente dirigidas ao 366º dia, esse que fez deste ano mais um dos maiores, entre tantos outros de necessário acerto astronómico. Ficaremos mais tristes por ver que mais uma série de meses chegou ao seu termo, ou ficaremos mais cépticos por temer o pior noutra série que já espreita? Procuraremos, de jaez supersticiosa, entrar aos saltinhos, e só com o pé direito, na fé de que essa estranheza de nos mostrarmos crentes num ano melhor impressione a noite e torne mágico o olhar espantado de quem está na festa. Quem pode entra, para esconjurar algum frio e outras tremuras de época, porque «tristezas não pagam dívidas». Quem decide festejar em casa, assiste ao trânsito dos meridianos que trazem as alegrias dos estrangeiros, ou ralha com as estatísticas sempre amargas da circulação. Mais uma surgiu, neste final de ano - Israel. Também aí haverá razão para festejar, quando infelizes são surpreendidos pelo bombardear ominoso de um povo que quer ser dono de razões a que milhões deixam de dar razão. E assistimos, molemente, à dor dos que sofrem num fim de ano que nem foi assim tão diferente em seu curso, porque prometer a diferença é muito mais imediato que garanti-la. Aí reside a hipocrisia dos que detêm o poder, em sistemas políticos afadigados em trabalhar imagens para possessivo consumo televisivo. Os problemas hão-de persistir, enquanto não dermos sinais concretos da metamorfose há tanto desejada. A única e promissora é a do ser humano. Depois, tudo virá por acréscimo. Bom ano a todos!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A MEMÓRIA DOMINA O TEMPO


Uma despedida soa sempre a triste quando, juntos num sentir pesaroso, nos apercebemos da rapidez com que a nossa história se tece; quando as pessoas se aproximam a trocar votos mútuos de coragem e confiança, em momentos em que, mais que com as palavras, reconhecemos no silêncio a transitoriedade da vida. Porque tudo é breve e a nossa presença aos olhos dos outros é curta, que fazer, então, para prolongar a nossa estadia na memória da comunidade? Educá-la. Justamente! Educar a memória é a missão mais edificante que podemos ter enquanto seres produtores de cultura, que passamos modelos de comportamento de geração em geração. Só a memória pode contornar a inevitabilidade do tempo que passa e recuperar o passado, tanto o das recordações agradáveis como o dos remorsos, e pode ser manipulada a nosso contento. Não somos seres habilitados a controlar o matematismo dos segundos que passam, senão pela competência da memória, mediante a qual conseguimos dominar o curso dos dias porque podemos geri-la em sentido retrógrado. O normal seria conformarmo-nos com a infalível sequência de instantes, sempre em trânsito prospectivo, mesmo que não os aceitássemos de maneira mais consentânea com a história. Puxando mais para a frente, ou para cima, consoante os pontos de vista, ao tempo cabe o trabalho de a ele nos submetermos. Inflexível, sabemos, todavia, que o tempo nem tudo consegue subjugar impunemente, pois ainda nos resta a faculdade de reprimir, em breve curso, os andamentos de cada período, servindo-nos da memória como esteio modelador do eixo cronológico a que estamos presos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

NO PRINCÍPIO DO FIM

Uma semana que começa em alguma calma e sem pressas, nem para pôr em dia tarefas prometidas a realizar neste período de pausa. Se foi dos parcos tempos de descanso, ou se foi da chuva que caiu quase incessante, num dia cinzentão e convidativo a estar bem dentro de casa. Doce fazer nada. Traduzida a expressão, o que resta são folgares de prazer, porque também devemos apreciar a necessidade dos intervalos, como tempos de reposição das nossas energias, tantas e tantas vezes dispendidas em vão, entre pessoas que reclamam esforços no limite das capacidades que temos. Os intervalos são tão importantes quanto os momentos de afã e dedicação aos afazeres agendados, porquanto sermos de recursos nunca eternos. Limitados como humanos que somos, precisamos de interromper o curso frenético das lidas diárias, para nos concentrarmos no que estamos a construir, se bem se mal. Não raro passamos à margem destas reflexões, porque os contextos em que o fazíamos deixaram de existir, estando hoje arredados da espontaneidade que era corrente. Mesmo que procuremos as mesmas pessoas para refazer esse tempo de contacto são, nem conseguimos explicar os motivos de tal vontade nem elas interpretam de igual modo essa pretensão. O pior é mesmo quando essas pessoas desapareceram para sempre dos nossos olhares, deixando-nos o seu silêncio ensinador. Partiram para sempre, sem haver tempo para uma despedida ao jeito antigo das conversas e desafios de raciocínio nascidos nos dias de intervalo que tínhamos.

domingo, 28 de dezembro de 2008

DAR ESTABILIDADE

Reconhecendo, nos tempos que vivemos, maior quantidade de momentos menos felizes, há que saber prolongar a festa que representa estar em família. Num dia como o de hoje, torna-se importante avaliar as palavras que nos chamam à união do lar, como garante de estabilidade e segurança futura. Precisamos de nos sentir integrados num corpo com alma, para que possamos perceber a vida como combinação de origens que dão sentido aos sentidos inatos. Muito do que somos vem connosco, mas precisamos de apurar a crueza do sangue que nos corre, sob pena de o sentir circular sem perceber o benefício de tal fluxo. Ter quem proceda às requeridas explicações, numa perspectiva que vá para lá da meramente técnica, explorada nas aulas, é de extrema utilidade para que percebamos o crescimento como obra de uma transcendência a que nunca teremos acesso. O que daqui se percebe deriva do facto de haver em nós, como fruto de uma tomada de consciência da nossa individualidade, a necessidade de reconhecer os nossos limites, quando chamados à descoberta do que existe para lá de nós. E, se valores como estes não forem incutidos na família, desde muito cedo, o esguardo do território dos outros pode perder-se de forma irrecuperável, com ele desaparecendo o nosso. Num quadro de formação equilibrado e ponderado, só muito dificilmente perdemos o nosso espaço, e até contribuimos para a sua partilha, porque não tememos a satisfação dos outros. E é essa estabilidade que temos de atribuir logo à nascença, como habilitação dada para enfrentar todos os géneros de privações futuras. Quanto mais dermos, mais receberemos, mesmo que fiquemos com a sensação da existência de uma lacuna imperecível que nos acompanhe vida fora.