sábado, 20 de dezembro de 2008

RITOS REPISADOS

A preparação dos compromissos finais do ano, como balanços e orçamentos, para que tudo fique bem registado, são trabalhos exigentes e próprios de uma etapa que requer novos fôlegos para que nos digamos entrar descansadamente num novo ano. Sabemos que todos os registos são necessários à configuração da história das instituições, donde o reconhecimento da necessidade de um esforço suplementar, a fim de produzir coerência entre tantas provas de projectos e exercícios realizados. Papéis a mais, num quadro de burocracia progressivamente afastado daquilo que deve realmente preocupar os profissionais mais empenhados. Isto é, estamos cada vez mais distantes de estabelecer regras de trabalho capazes de favorecer e consolidar as relações de confiança que se exigem ao crescimento dos pares, em vez que inventarmos folhas para ler a destempo, que, por sua vez, reclamam outras folhas explicativas da leitura das anteriores. E assim sucessivamente. Em vez de promovermos a libertação de ordens impositivas, negativas - assim mesmo, das que são típicas de autoridades caricaturais, e de defendermos a criação autónoma e livre de arquivos, somos forçados a colaborar numa onda de repetismo e de anti-inovação, incapacitante para quem prefere propor novos desafios.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

FALTAR AO AVISO

Esperar para ver não tira os nossos dias do cinzentismo repetido, nem costuma trazer grandes consequências ou novidades. Viver só na expectativa, contando que todas as contas atinjam os resultados dos nossos proveitos, também não acrescenta muito de monta aos nossos pecúnios emotivos. Falta prudência, dirão, ou o recado prevenido de alguém que intui perspicazmente os proventos futuros. Melhor só mesmo os avisos que podemos trocar entre nós, em atitudes enriquecedoras e edificantes de sabedoria. E se a própria vida nos vai presenteando com surpresas, não as podemos recusar por estarem mais longe ou mais perto daquilo que nos agrada. As pessoas são livres de tomarem decisões, até as que são em prejuízo dos outros, desde que não percam a memória dessa opção tomada. Não querem contar com as sugestões alheias, porque lhes parecem fraquezas puerilmente vestidas, e é dos mais crescidos que saem as decisões mais desagradáveis. Variações de comportamento, de quem deixou importantes decisões por tomar na vida, e agora se deixa absorver por minudências mesquinhas, passe o pleonasmo, para agradar um superior de cargo com amplitude inferior de vistas e amorfas realizações idealistas

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

OLHAR NO LIMITE


Uma fase que encerra, entre múltiplas canseiras e olhos cansados de tanta leitura e escritas esquivas. E entre tantas e tão amplas diferenças, os nossos critérios de cálculo devem ser os mesmos e não podem recrear-se com desvios mais ou menos hilariantes de afirmações irreflectidas, próprias de uma geração meia atordoada e em formação. Ninguém sabem bem que destino dar-lhe, senão que presente garantir, na máxima força que acentua o desgaste e criar sensações de impotência pelos insucessos a que isso arrasta. Estaremos a sofrer por uma falta de planos das nossas vidas, lançadas há muito e sem certeza daquilo que era futuro. E assim vivemos, sempre a duvidar do amanhã e a deixar para a própria pessoa a abertura dos caminhos livres por onde a vida passe sem obstáculos. Ensinar a vencer o cansaço e a elevar as capacidades de iniciativa e de autonomia, é uma tarefa de tal forma nobre, que não é a qualquer profissão que cabe assumi-la plenamente. Chegados ao fim de uma fase exigente de trabalho, olhamos já para o início do novo ano que aí está, na espera auspiciosa de uma nova aura de entusiasmo e fé, capazes de fixar num gesto limpo o horizonte que procuramos.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

PREPARAR A FESTA

Quando somos todos chamados a participar na preparação da festa, mesmo absorvidos por agendas lotadas de trabalho desgastante e por tarefas devorantes, não devemos recusar o auxílio a prestar. No convívio e afã, podemos mostrar o outro lado das nossas preocupações, soltando alegria e excedendo entusiasmo pela data que se aproxima. Seja no dia seguinte ou mais tarde, colaborar na montagem de um programa de animação deve ser motivo suficiente para o regozijo interior se tornar duradouro. E se tudo for pensado para as crianças, ainda mais alma devemos dar à iniciativa, porque, se falhar à nascença, perde-se o efeito posterior, que se quer real e autêntico. Como as crianças, assim também nós devemos ser mais sinceros e certos connosco próprios, evitando o deslace das relações que tecemos dia-a-dia. Porque somos de afectos, podemos reconhecer na festa o início de uma nova etapa no valor a dar aos outros, porque também eles sentem como nós. O convite para participar na festa estende-se aos que coabitam num mesmo espaço, com objectivos comuns e sentidos apontados na mesma direcção: a criação e manutenção de climas propícios ao melhor envolvimento nas actividades diárias. Se assim fizermos, estamos, mesmo sem programas de risco, a dar ,luz à festa que sempre deve estar prontar a nascer em nós.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

CRIAR RELAÇÕES

São as oportunidades que lançam desafios de criação de laços entre quem não conhecemos. Tempos breves, quando queremos investir na aproximação e encetar no conhecimento do outro, para fundar o movimento contínuo de novos contactos. No trabalho como no lazer, estamos livres para tomar decisões no que à convivialidade diz respeito, ou para desfazer uma relação que já foi eventualmente duradoura. Nem todas se prolongam de igual modo no tempo da nossa história, dado necessitarmos de ir apurando os critérios de escolha e procura, modelados consoante as perspectivas que temos da realidade. Vivendo em estabilidade, mais facilmente definimos os motivos criadores das ligações que se vão tecendo entre pares. O pior que pode suceder é não dominar amofinações e actos falhados que temos, deslizando no rumo de perda de auto-estima e de desconsideração da própria personalidade, com o risco de desconcertar a linha cronológica entre o passado e o presente. Sem harmonia entre estes dois estádios, fica-nos uma biografia desarticulada e de caminho meio perdido em direcção ao futuro. Mutatis mutandis, as relações servem para estruturar a nossa história, que não se constrói de isolamentos e de eternos retiros em zonas nebulosas de pensamentos dúbios e faltas de motivação também incertas.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O VALOR DA (IN)FORMAÇÃO

Numa sociedade que se pretende marcada pela inovação, nomeadamente de ordem tecnológica, numa lógica ironicamente distante dos utilizadores, ainda vai sobrando lugar para os suportes clássicos de informação, como o jornal ou o livro. Em depósito mais ou menos vivo nas bibliotecas públicas, onde o conhecimento está ao alcance partilhado da população, os livros e os periódicos abrem-se à curiosidade sem idade, e com eles sabe bem ter o saber transformado na história que se tece a cada dia que passa. Porque passamos sobre coisas que passam, cabe-nos fixar a exclusividade de cada gesto ou página de brilho novo dado gratuitamente. Estaremos aptos a usufruir das vantagens do inovador acesso às fontes de informação, se formados para dominar a variedade de recursos existentes. Participamos na vida como pessoas gradualmente enriquecidas pela educação e aporte de conhecimentos, e afirmamo-nos consoante o uso que fazemos deles. Mais cultos são os que, perante um quadro de desconforto e instabilidade cognitiva, conseguem contornar o desequilíbrio originado na satisfação de uma necessidade. E quanto maior for o nível de formação, maior será o raciocínio empregue na solução do problema. Como construtores do futuro, num presente em progresso, é pela leitura que percebemos as virtudes da inteligência que nos pode levar longe, muito longe.

domingo, 14 de dezembro de 2008

O FOGO E O GELO


Quem diria que o frio que ora se enfrenta nem é tanto resultado de massas de ares polares, senão obra dos homens incautos que perpetuaram por gerações comportamentos incorrectos e onde o descuido foi sucessivamente tolerado. E pior: com cobertura legislativa indevidamente condescendente, perante um quadro de atitudes faltosas e pobres em integridade. Foram os lixos acumulados em espaços indevidos; foram as descargas cegas realizadas sem uma reprovação oportuna; foram as lavagens industriais sem testemunhos claros. E são os destemperos de muitos que perpetuam tais comportamentos, quando, há que admitir, os exemplos deviam partir de quem mais responsabilidades tem nestas matérias tão sensíveis. Só há poucas décadas passámos a ter verdades mais consentâneas com as desagradáveis imagens apreciadas noutros dias das nossas vidas. Castigos, dirão, impostos sobre nós em jeito de lições severas e dubitavelmente eficazes, porquanto já não irmos a tempo de tudo corrigir da forma mais equilibrada. Restam-nos promessas de criação de sistemas de compensação desses displicentes comportamentos, face ao efeito agastante do ar irrespirável e dos nossos espaços pouco convidativos ao encontro connosco mesmos. Numa consciência cívica activa, o futuro está sempre presente.