sábado, 29 de novembro de 2008

DO CONTACTO À FESTA

O convívio é extremamente necessário à condição humana. Uma agenda não deve servir só para anotar canseiras e prazos de conclusão de trabalhos, princípio tão contrário à própria vida que se nos apresenta sem prazos de conclusão. Somos sociáveis, animais de hábitos gregários e propensos à confraternização e partilha das alegrias e embaraços diários. Enquanto tal, precisamos de nos preocupar seriamente com os momentos realmente úteis à nossa passagem, prescindindo de regras limitadoras da nossa predisposição para a festa, porque essa é uma urgência sensível dos amigos e familiares. É fundamental estarmos atentos às ofertas que a vida nos concede. Uma delas é o dom do encontro e da alegria. Combinadas de forma saudável, é como se uma nova inspiração penetrasse a nossa alma num cântico épico de eternidade. E porque valores como a amizade e o companheirismo nunca podem desvanecer, não é transgressão refrear os ritmos quotidianos em favor de recordações de situações inesquecíveis. A nossa história faz-se em conjunto para o conjunto, sempre mais marcante quanto mais aprofundados forem os apelos à união e contacto entre os membros de um grupo.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

DA GESTÃO DO TEMPO

Ter pressa é não ter explicação para a gestão deficiente do tempo. Desculpas, serão, de todos os que vivem supliciados pelas pressões diárias impostas nos prazos e horários a cumprir. Ter tempo é estar disponível a aceitar a duração que tiver de ser dada àquilo que tivermos de fazer. É de boa nota respeitar o tempo dos outros, pois que apreciamos ver que respeitam o nosso. Muito importante é reconhecer a verdadeira utilidade do tempo que temos, em tantos contextos onde estamos e passamos. Quando realizamos qualquer tarefa agendada, nem sempre as pessoas que assistem à nossa mansidão ou exaltação percebem a vivência e a qualidade desse tempo. Classificar aligeiradamente os pares pela forma como gerem o tempo é erróneo. Ficar unicamente com a noção cronológica da contagem numérica da passagem dos momentos empobrece-nos e não nos tira desta superficialidade que é a leitura da paisagem. Devemos, outrossim, aprofundar o saber das raízes, onde encontrar o domínio do tempo, como entidade transformadora das noções que da vida vamos ganhando.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

MEIOS A MAIS

Os meios tecnológicos disponíveis e ao alcance do Homem não são suficientes para o substituir. A avaliar por muitas pessoas que nem dispensam o telemóvel ou o correio electrónico, como meios de comunicação activa, pelo menos para contactar os amigos, os que se pensam efectivamente assim, nada escapa à comunicação. Sem se transformar numa monomania, especialmente quando, na procura de rede, uma conversa privada tem de sair à rua para acontecer, o aparelho de bolso é dos que mais mexe na bolsa de quem o usa. Para quê a queixa, se quem o usa pensa sempre mais nos imprevistos, usando-o, origina outros momentos inesperados, num ciclo fechado ininterrupto. Seria óptimo encarar assim utilidade dos aparelhos investidos de personalidade, se houvesse no seu uso um raciocínio humanizado e dialogante, capaz de ver neles uma funcionalidade recorrente e sempre ao serviço da criação e manutenção das boas relações entre as pessoas. Mas não. Não é assim que agem as pessoas atidas aos instrumentos de conversação, pois que aproveitam as falhas de bateria para apontar outras aos outros, desarmados mas abertos às explicações desinteressadas dos falhanços ocorridos. Teremos meios em excesso, para viver dependentes de uma falta de sabedoria que já devia ter nascido muito antes deles.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

CONTAR PARA SABER

Trazer à luz acontecimentos idos, ou revelar situações meias perdidas na memória dos dias, é abrir a nossa presença aos outros. Quando o baú das recordações se escancara a quem não o esperava ficar a conhecer, outras surpresas daí vêm, misturadas com emoções mais reflectidas e mal ponderadas. Desabafar é, portanto, mais uma necessidade entre tantas outras, que fazem perder a inibição de quem a tem, e dão a ganhar comunhão de interesses a quem ouve. Saber ouvir é uma virtude. Saber contar com presença de espírito é uma arte. As histórias, as notícias, as crónicas da nossa vida devem ser abertas aos outros, em lições de fraternidade e sentido de crescimento humano. Se escolhermos bem a oportunidade para denunciar as nossas pulsões, mesmo que nos julguem em ridículo, é bom que saibam que somos pelo que pensamos melhor, e não pelo que os outros ajuizam pelo aceitável e socialmente adequado. Aí, nem sempre têm cabimento as boas palavras, porque esvaídas de sinceridade e realismo. Saber porque sim, também não é de bom tom. Preferimos saber para melhor conhecer.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

AUTORIDADE ABERTA

A nossa história faz-se de muitas datas e lembranças. E quanto mais nos envolvemos na textura social, maiores são as possibilidades de podermos ser recordados pelos tempos fora. É assim, porque as responsabilidades aumentam e as relações se entretecem mais aprofundadamente. Não tendo projectos que impliquem núcleos assinaláveis de elementos, em número, pelo menos, sujeitamo-nos a perder uma autoridade de extrema importância para manter uma liderança partilhada e sempre aberta às críticas. Pena é que muitos não pensem desta forma, já que confundem, talvez sem se aperceberem - o que é nefasto - os conceitos de autoridade e mando. Quando a primeira escasseia, prevalece a segunda, num processo pesadamente incómodo para os subordinados. Porém, quando o convívio entre ambas se mostra de razoável relação, a autoridade reforça-se e o poder não se põe em questão. É aqui que a qualidade das lideranças falha, porquanto sem noção da proporção de juízos em que se deve trabalhar. Olha-se, depois, só para cima, com receio de avaliações desconsiderantes dos métodos de trabalho empregues, e não se actua com a humanidade própria de quem construiu paulatinamente os alicerces das funções que ocupa.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O MAL BEM VESTIDO

Quando as relações entre profissionais roçam a desumanização, mormente por altivez e arrogância de origem anglo-saxónica, a julgar pela (de)formação, só nos resta perguntar pela consciência e moral de quem se pensa ariana. Raças puras, em actos públicos, mas corruptas, em costumes privados, dão-nos a entender auras de bem-culpar-os-outros, assumindo não querer mais conversar com este ou aquele colega. Criancices ou infantilidades, de quem é incapaz de olhar bem nos olhos os outros pelas diferenças que têm, e aceitar essas mesmas diferenças como forma de nos enriquecermos mutuamente. As actividades que desenvolvem tudo delas exigem, e pensam ter lugares guardados nos cumes das tomadas de decisões. Lá, onde sempre se olha de cima para baixo; onde ninguém pode reclamar ajudas, porque faz mal olhar de soslaio sequer. Pensam que todas as pessoas que olham para si desejam ser iguais, porque encarnando todas as virtudes. Para elas, os defeitos só podem estar nos outros, que chamam de longe atenções doces de humildade. Nunca souberam valores desses, nem acham que o mundo nem sempre pode ser visto às cores. Cinzentas por dentro, enegrecem os futuros de quem com elas partilha o espaço, deixando à sua volta um rasto de penúria a que um dia ficarão agarradas, eternamente meninas transformadas em celibatárias devotas de gabinetes escusos.

domingo, 23 de novembro de 2008

AFIRMAR SEM RECEAR

Sem qualquer receio de poder ser contrariado pelo avanço de uma ideia arrojada, sentencio que qualquer tempo é o ideal para afirmar a nossa personalidade, ainda que nem sempre nos contextos mais adaptados à nossa forma de estar e sentir. Encobrir, gesto errado, os nossos pensamentos só porque do outro lado está alguém de juízos fáceis, não parece mais correcto, porquanto ilusório dos sentimentos em troca aberta e franca. Pretendendo que assim sempre seja, não nos devemos furtar à revelação transparente da nossa forma de compreender o mundo, eternamente disponível ao nosso domínio crítico construtivo. Temos raciocínio e experiências úteis para dispor ao serviço do colectivo, pois que somos em conjunto olhares e emoções sobre tudo o que vemos e sentimos. Ninguém é efectivamente neutro, perante as atitudes alheias ou notícias que conhece. Age consoante a sua espontaneidade ou ponderação, mediante códigos socialmente aceites e toleráveis, aberto às considerações dos outros e escudado numa personalidade estimada e plena de autonomia.