sábado, 22 de novembro de 2008

IMPULSOS RITUAIS

Quase em época de balanços, lançamos cansaços no fogo dos últimos dias do ano, e queimamos os restos meio usados, gastos como que a prever novos lumes numa outra etapa de fé. Ano após ano, numa aventura de muitos princípios, retrocessos e outros tantos andamentos, qual sinfonia prolongada pelo apetite eufónico de uma assistência leiga, apontamos a concretização de virtudes e projectos a cada badalada dada. Sons que passam e nos transformam em seres de promessas ou de falhanços, se vistos à frente ou não, como criação de ritmos a que nem sempre damos a devida importância. Apequenados no frenesi mundano e rotineiro, porque levados numa corrente que empurra aceleradamente a um destino irrepetível, cremos nas nossas despesas como forma de nos tornarmos donos de coisas que possam perpetuar a nossa passagem por este mundo, e esquecemos a aposta mais duradoura que devíamos fazer às orientações do espírito. Não é que somos mais resultado da combinação de vontades que de matérias?

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

EM ANOS SOBRE ANOS

Estratégias a mais e aptidões a menos, num país fustigado pelas contrariedades no campo educativo. Quase nem valem a pena reuniões sobre reuniões, em horas sobre horas, com grelhas sobre grelhas, em papéis sobre papéis, acumulando cansaço sobre cansaço. Daqui só derivam desvios improdutivos, pois que assim só podia ser, e parecemos novas amostras de laboratório em julgamento diário e amplificado pelos meios de comunicação social. Torna-se, portanto, muito difícil gerir os interesses localizados na sala de aula contra aqueles difundidos à população, frequentemente confundida com a pressão concorrencial noticiosa. Regras. Precisamos - muito! - de novas regras que regulem os percursos de formação dos portugueses, sob pena de hipotecarmos a vida dos nossos vindouros. Gerações sobre gerações, empenhadas conforme as necessidades e desembaraços úteis, elogiando, encorajando, corrigindo, reformulando e revendo, sempre na demanda da promoção social do indivíduo, como garante de continuidade dos valores culturais incorporados. Hoje, e mais que nunca, temos de nos empenhar fortemente em lutar contra a carência e quietismo de muitos jovens que já não encontram tantas portas abertas, nem largueza de futuro, como tiveram os que agora são seus pais. Precisamos de implicar profundamente os exemplos como orientações proveitosas e necessárias ao nosso crescimento individual e colectivo.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

OUVIR É DILATAR A ALMA

Os problemas nascentes auxiliam o crescimento, se deixarmos que as soluções actuem. Livres na sua procura, e reconhecendo a legítima utilidade para debelar os conflitos que surgem, encetemos a via de indagação de respostas a desequilíbrios como meio de ultrapassar desencontros e dúvidas. Tão naturais e necessárias como o ar que respiramos, a nós nos cabe sistematizar raciocínios e priorizar desenlaces para as divergências procedentes dos diálogos tidos. Nem sempre construtivos, porquanto do bom senso, não raro, arredios, até que ponto estamos aptos a avaliar a sua adequação às pessoas com quem os entretecemos? De pouco importa imputar no trabalho a responsabilidade de um colóquio mal encaminhado, ou a culpa de um falante mais exaltado, se, por uma simples pergunta, as reacções produzidas não forem calibradas ao teor das palavras empregues na demanda. Paremos para reflectir, ouvindo fundos chamados à quietação e bonança, e ajustemos os termos do nosso baú de sentenças aos proveitos moderados da conformidade com os nossos pares, por forma a promover o salutar relacionamento entre todos.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

IRONIA E SERIEDADE

É por demais sabido que necessitamos de estar ao corrente de dados comuns para os poder comentar e revelar as nossas opiniões. A vida social, mas sobretudo a vida política, recheia-nos de constantes imprevistos. Uns mais originais que outros, porquanto forma de distância das monotonias há muito reconhecidas na linguagem dos governantes. O exemplo de ontem torna-se muito grave, mistura de ironia e seriedade, num contexto austero, como foi o caso da comunicação proferida. Partiu de alguém com enormes responsabilidades na educação de uma opinião pública bem informada e esclarecida, que reclama dos seus representantes uma lucidez activa e uma consciência ponderada, perante diferentes perspectivas da realidade. Bem mais fácil seria julgar os outros pela liminar falta de seriedade, ao invés de suscitar a dissipação das dúvidas, como procedem alguns elementos de órgãos de comunicação social. Não queremos, na criação de cidadãos convictos e responsáveis, receitas palavrosas adaptadas ao caso, senão ir aprendendo com os erros ou gafes, imperdoáveis, em quem, perante os olhares vulpinos de uma assistência ávida do calor jornalístico, torce o nariz ao futuro ainda mal projectado.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

AS PALAVRAS REVELAM-NOS

A linguagem que usamos é a maior prova da nossa versatilidade como falantes. Adaptamo-nos a diferentes situações, moldados pelos contextos em que vivemos, e denunciamos as nossas opiniões num olhar, num gesto, num traço de rosto ou numa palavra, forma mais completa de expressarmos o nosso mundo. As palavras marginam o nosso raciocínio e amplificam as intenções que gradualmente crescem no interior. A partilha dessa realidade abstracta, como construção autónoma e mais ou menos definida, depende, portanto, de um acto consciente e adoptado como correcto, de modo a consolidar a nossa afirmação no espaço que ocupamos. Cada palavra, transformada e transformadora, é uma imagem nossa revelada ao outro, pelo que se torna de capital relevância ponderá-la nos usos e intencionalidades objectivas finais. Quanto mais aproximarmos as palavras de que nos servimos aos bons motivos a elas associados, mais nos unimos em pensamentos realmente únicos. Não dos que nos roubam a visão periférica do que nos rodeia, mas daqueles que nos fazem encaminhar em direcção ao sentido gregário tão característico do género humano.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

TEMPO A TEMPO

Um atraso no tempo pode valer reprimendas infindas; eternas insistências em alguém em perda de razões. De nada valem explicações sobre explicações, descobertos os motivos de um horário não ter sido cumprido. O que mais importa, perante a falha assumida, é saber entender o contexto em que tal sucedeu, na confirmação de que estará longe uma possível repetição. Porque somos humanos, mas que nem sempre aprendemos a esquecer, em ordem a perdoar, necessitamos de aceitar a posição voluntária do outro que solicita a compreensão e estímulo para ultrapassar o desequilíbrio. Evitar recaídas é imprescindível, sobretudo se estivermos dispostos a reconhecer que, a qualquer momento, elas podem surgir, como obstáculos que nos põem à prova como seres em crescimento.

domingo, 16 de novembro de 2008

ACENAR PARA NÃO ESQUECER

O afastamento das pessoas gera sentimentos de abandono e perda, quando a distância aflige mais que o aceno de separação. São esses gestos finais que ficam registados na memória e se avivam quando evocamos os nomes dos que nos marcaram, porque com as etapas e mistérios da vida explicados em lições irrepetíveis. Não surpreende, pois, que uma despedida para sempre traga dores indeléveis, uma vez conscientes da ausência do outro. Aprendamos a elevar o seu sentido de presença, durante a estadia na Terra, porquanto únicos capazes de perpetuar a aura de convivência existente. Nutri-la, como meio de garantir a história dos nossos percursos, faz-nos exemplo perante o outro, se agirmos sob princípios de lealdade, honestidade e verdade. Recordar pessoas quando assim foram, é limpar energias negativas e hábitos sujos que os dias pouco mais que cinzentos nos dão, agravados, também eles, pela escassez de momentos de interiorização. No fim, perante o inevitável, lamentamos os tempos gastos com futilidades, ao invés de defendermos a presença funda do outro em nós.